Uma pesquisa desenvolvida na Universidade de Brasília (UnB) aponta novos caminhos de investigação para descobrir a origem das drogas ilícitas consumidas no país. A partir da identificação de insetos presentes em uma amostra de maconha apreendida no Distrito Federal (DF), o biólogo e agente da Polícia Civil do DF Marcos Patrício Macedo conseguiu descobrir que a droga tinha sido produzida em Mato Grosso e no Paraguai. Segundo ele, é a primeira vez que essa metodologia é utilizada no país.
O trabalho de Macedo levou cerca de dois anos para ser concluído. A primeira etapa foi a manipulação do material apreendido para encontrar fragmentos de insetos que pudessem servir de pista para localizar a origem da droga. Macedo descobriu pedaços de formigas, besouros e marias-fedidas. Depois, procurou entomologistas (que estudam insetos) especializados em cada uma dessas espécies para identificar o habitat.
Uma das principais dificuldades, segundo o pesquisador, foi conseguir a liberação da droga para o estudo. “A gente pegou a maconha, fruto de apreensões que já estavam sob a guarda do Poder Judiciário. Fui muito bem recebido no Tribunal de Justiça do DF [TJDF], mas tive problemas para conseguir amostras em outros estados. Por isso, limitamos a pesquisa ao DF. É um tópico muito delicado, porque envolve muita responsabilidade, há um receio de que a amostra possa desparecer”, explicou ele.
Para o pesquisador, a descoberta pode ser mais uma ferramenta de investigação, além dos métodos já existente para o combate ao tráfico de drogas no país. “Ainda é uma pesquisa inicial, mas poderíamos analisar qual é a fonte de abastecimento de determinados centros urbanos. É uma alternativa interessante, toda metodologia nova tem um valor, principalmente quando a polícia se depara com um caso muito complicado. Quanto mais possibilidades, melhor”, afirmou.
A metodologia usada na pesquisa só poderia ser replicada em drogas não sintéticas e pouco processadas. “A maconha é fumada quase sem processamento nenhum, por isso ela vem com uma quantidade grande de insetos porque, nesse meio, não é comum o uso de agrotóxicos”, explicou o acadêmico. A pesquisa foi desenvolvida como dissertação do mestrado de Macedo na UnB, que pretende continuar estudando o assunto no nível de doutorado.
O uso de insetos para levantar provas de crimes já é um procedimento de investigação adotado em muitos países do mundo e aceito pela Justiça por causa da confiabilidade científica. Há, inclusive, um ramo de estudo específico, a entomologia forense. Com a análise de larvas encontradas em cadáveres em estado de decomposição é possível, por exemplo, determinar quando o crime foi cometido.
Fonte: Agência Brasil