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Postada por: Andrey Vieira dia 11/01/2011
Sem ideologia, partidos políticos encolhem em Mato Grosso do Sul
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Ao longo dos anos, alguns partidos considerados decisivos nas eleições e na governança têm perdido representação em todo o País. Em Mato Grosso do Sul, PPS, PP, PTB, PR, DEM e PDT perderam espaços importantes no governo, na Assembleia Legislativa ou no Congresso nos últimos 10 anos.
Para o jornalista e analista político Eron Brum, isso acontece porque os partidos são vítimas da própria falta de ideologia. Ele afirma que muitos são “siglas de aluguel”. “Trata-se de uma espécie de vírus que se multiplica a cada eleição, ou seja, de dois em dois anos. Essas siglas são meros apêndices e, quase sempre, criadas pelos partidos para enganar o eleitorado”, diz.


“Expressões como identidade, compromisso social, seriedade, ideologia ou responsabilidade não constam nos dicionários dessas siglas. Para se ter uma ideia da salada partidária, hoje o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) tem, em seus arquivos, 27 agremiações políticas que se intitulam partidos políticos. E quando algum partido ou sigla entra em decadência, arruma outra conjugação de letras e volta ao cenário”, prossegue.


Um exemplo, citado por Eron, é o da Arena, dos tempos da ditadura, que já foi PDS, PFL e agora é DEM. Em sua história recente, o Democratas elegeu Murilo Zauith como deputado federal e vice-governador, mas hoje conta apenas com um representante na Assembleia Legislativa, Zé Teixeira. Murilo disputa a prefeitura de Dourados.
Outro partido que mudou de nome foi o PL (Partido Liberal), que passou a ser Partido da República. O partido já foi um dos mais influentes no governo, mas hoje tem mais força no Poder Legislativo, onde possui três deputados estaduais, todos reeleitos no ano passado, e agora conta com um deputado federal: Edson Giroto.
Quem arrisca - Mas ninguém perdeu tanto no ano de 2010 quanto o PDT. Uma briga interna pelo comando do partido fez com que os deputados Ary Rigo e Onevan de Matos voassem para o ninho tucano. Já nas eleições, o partido que apostou tudo na aliança com o PT perdeu as disputas pelo governo, o que lhe renderia algumas secretarias, e ao Senado.


A derrota já prejudica o partido nas próximas eleições, em 2012, quando o ex-deputado federal Dagoberto Nogueira disputará a prefeitura de Campo Grande. Ele pretendia chegar ao Senado para usar o cargo de trampolim à administração municipal.


Já o PT, embora possa dar a impressão de ter sido esmagado na última eleição, manteve quatro deputados estaduais e reelegeu o senador Delcídio do Amaral – forte candidato à sucessão de André Puccinelli em 2014.


Por sua vez, o PP, que vive uma verdadeira guerra interna, não conseguiu reeleger Antonio Cruz à Câmara dos Deputados. Após a eleição, Cruz foi destituído do partido, após conflito com o vereador Lídio Lopes. No partido, há também uma luta intensa entre o deputado estadual eleito Alcides Bernal e o presidente municipal Paulo Matos. Os dois querem o comando do partido regional e a prefeitura de Campo Grande.


Mudando de rumo - Falando em ideologia, o PPS já foi um partido comunista. Fundado em 1992, o antigo PCB (Partido Comunista Brasileiro) nasceu do movimento proletariado com o objetivo de lutar e agir pela compreensão mútua internacional dos trabalhadores.


Hoje, ele é aliado de partidos da direita, como o PSDB, o DEM e o PMDB de Mato Grosso do Sul. Em Dourados, o PPS faz parte do arco de alianças em prol da eleição de Murilo Zauith (DEM).


O PPS, que teve deputado federal e secretarias de Cultura, Planejamento e Justiça, além de Procon, hoje conta apenas com presidências de fundações e da Escola de Governo, um deputado estadual (Diogo Tita) e um vereador em Campo Grande (Mario Cesar).


No caso do deputado Diogo Tita, ele usou o PPS para se eleger. Tita era filiado ao PMDB, mas trocou de partido a pedido do governador André Puccinelli para garantir uma eleição mais fácil. O PMDB estava recheado de candidatos fortes.


O presidente regional do PPS, Athayde Nery, reconhece que o partido vive uma crise. Para ele, a culpa é da infidelidade de algumas lideranças que não trabalham em prol do partido nas eleições, mas em benefício próprio. Ele diz que irá apertar o cerco contra os “infiéis” e acionar a Comissão de Ética.


Athayde diz que o problema não está na mudança de comportamento do partido. “O que mudou é que não temos um único pensamento marxista e lenista. Mas continuamos dentro de uma concepção de esquerda”, afirma. Suplente, Athayde assume neste ano mandato na Câmara Municipal de Campo Grande.


Fim do túnel – Para o analista político Eron Brum, a solução para a recuperação dos partidos pode estar em uma reforma eleitoral profunda com voto distrital, eleição proporcional em listas, limite de reeleição, financiamento de campanha e fidelidade partidária.


“A reforma não sai porque a filosofia dos partidos e das siglas parece ser a mesma: para que mudar algo que os eleitores engolem com facilidade a cada eleição? Afinal, os eleitores não se esquecem até em que votou na última eleição?”, afirma.


Fonte: CG News







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