Página Inicial | SÁBADO, 27 DE ABRIL DE 2024
Postada por: Jr Lopes dia 25/11/2010
PRECONCEITO: De quem é a culpa?
Compartilhar Notícia

Paulo Hamilton


Assistindo os noticiários dos principais canais de televisão, fiquei estarrecido com a veiculação de fotos de violência de um grupo de jovens, filhos de pais de classe média paulista e confesso que ainda me surpreendo comigo mesmo quando me flagro assustado com certos atos de selvageria.


Que bom!!! Fico muito, muito feliz por me saber humano. Sim. Só o estado de espanto é humano e me recuso a ser mera criatura, que flutua entre o ter e o ser. Nada! Quero, apenas, viver. Viver, no entanto, resume-se a surpreender, assustar, compreender, descobrir. E eu descubro, com espanto e horror, que o mundo ainda esconde surpresas postas em desalinho com o que se espera do ser humano nos dias de hoje.


Alguns jovens entre 15 e 17 anos assustaram o país ao espancarem, sem qualquer sentimento de piedade, rapazes que, supostamente, são gays.


Mais de 4 contra um. Acuado, humilhado, ferido no corpo e na alma. Não bastasse a intolerância do silêncio hipócrita de alguns, o grito em socos e pontapés. Os agressores são de classe média; aquela protegida por pais, o poder e as leis. São os jovens que assistem, como se não prestassem atenção, à enorme demanda de crimes que se perpetuam e crescem por conta da impunidade. O fato é que “parece” que eles não prestam atenção, mas prestam sim e crêem que podem estar acima do bem e do mal. E eis a palavra de ordem: IMPUNIDADE.


Não tenho a receita para combater isso, muito menos me excluo da culpa nessa engrenagem da qual, mesmo relutando, faço parte. O fato é que esses adolescentes apostam nisso. Eles se perdem em seu mundo dourado e passam a acreditar que NADA os molestará e deixam fluir o seu preconceito embutido e disfarçado. De onde trazem esse sentimento? Em que momentos de suas existências perceberam que ser diferente, é ruim, é pecado, é perigoso. Que modelos afinal eles seguiram? Sim, porque, “palavras não educam, mas exemplos, sim.”


É lamentável, doído mesmo, perceber que nós, adultos, pais, sociedade,  estamos falindo. Somos nós os exemplos deles. Somos os que os fazem acreditar que diversidade é algo que deva ser combatido com socos e pontapés e, talvez, com um “pouco de sorte”, com a morte. Ser negro, gay, nordestino ainda causa desejos de matar em alguns jovens neste “Brasilzão” de tantas misturas. Agora veja estas contradições: Roubos, mal-tratos contra crianças, pedofilia, estupros, fichas sujas, não.


Precisamos urgentemente rever nossos conceitos e posturas. Precisamos endurecer para que nossos adolescentes percebam que há um limite.


Precisamos acreditar na Escola que escolhemos para nossos filhos e estabelecer uma parceria séria, em que valha mais a figura do educador e menos a mensalidade que se paga. Uma parceria que permita que eles sejam punidos quando se fizer necessário e que a Escola aí seja a lei, os pais, os que representam essa lei e seus filhos, massa a ser modelada para mandar para o mundo cidadãos melhores.


Há um escritora de renome (Rozana Pires) que diz que precisamos nos reinventar e ter a coragem de nos olharmos bem no fundo e enfrentar a certeza de que atos bárbaros, cometidos por jovens em tão tenra idade são de responsabilidade nossa, sim. Como pais, educadores, representantes políticos. Um homem, independente da sua condição social, não urina na rua porque esse ato esteja no seu DNA. Ele o faz porque, um dia, alguém (mãe, avó, tia, pai...) o induziu a fazê-lo, tornando-se, assim, algo banal.


Para este caso ora abordado, as autoridades buscaram grupos de Neozanistas, Skin Reads, enfim... Buscaram culpados em redutos doentes e malcheirosos; buscaram culpados no óbvio! Quem sabe não tenha sido algum grupo terrorista! Mas foi com constrangimento que a polícia anunciou: NÃO! Eram jovens de classe média, bem nascidos, com endereço fixo, pais vivos, boa escola e... preconceituosos.


Portanto, fica aqui a minha reflexão diante de crime tão indefinível, que não acontece somente na capital paulista, mas sim, em todas as cidades brasileiras. Algo que revela um preconceito cruel, vil, doente. Plantado por quem? Quando? Como? Não sabemos, mas imaginamos.


E dormirei agitado, mas, de certa forma, em paz, pois ainda estou assustado, enojado. Isso significa que há “gente” dentro de mim.


Um abraço fraternal a todos.


(**Paulo Hamilton professor aposentado em Naviraí e colaborador deste site de notícias)


Fonte: Paulo Hamilton







Naviraí Diário | Todos os Direitos Reservados