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Postada por: Redação/A.V dia 30/09/2010
Artigo: E não é que Pelé tinha razão? (Paulo Hamilton)
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* PAULO HAMILTON

Depois de conferir o resultado das eleições a cada período eleitoral, constata-se mais uma vez que o “rei” Pelé tinha a mais absoluta razão quando disse, há mais de 20 anos, que “o povo não sabe votar”, e foi quase apedrejado por isso. E não sabia votar porque, civicamente, é massificadamente alienado, é desinteressado, desligado do que, na realidade, muito representa para uma possível melhora à uma vida mais digna e uma administração mais séria, mais transparente e mais voltada à comunidade, como dizem: “Democracia é o governo do povo e para o povo”. Mas o povo, no caso dos eleitores, não está nem aí.


O eleitor de modo geral não acompanha os candidatos, não conhece os candidatos, nem mesmo se preocupa em obter alguma informação a respeito. Boa parte decide em quem votar quando está diante da urna. Assim não há como reclamar dos políticos que não fazem a sua parte, se o eleitor não faz a sua (Xico Júnior – Jornalista de Canoas-RS).


Mas, há muito que uma candidatura a cargo político não provocava tamanho rebuliço, como a do humorista que se diz palhaço e antes que os defensores dos fracos e oprimidos venham taxar-me de preconceituoso, me permitam como simples eleitor avaliar que se propõe a exercer a tarefa de gestão pública, tão sacralizada como ideal, e tão promíscua como prática, ora não sou eu que faço este julgamento mas o próprio candidato no seu discurso de esculhambação, afinal o seu slogan se baseia na virtuosa frase, que por si só mostra as suas sublimes intenções: “Vote Tiririca, pior que tá, não fica”. Vejamos o que ele quer dizer com isto, primeiro a coisa não deve estar boa, pois ele fala em pior e não melhor, mais do que isto ele não propõe em melhorar nada, pois como ele diz pior não pode ficar, mas também não vai melhorar, o que caracteriza uma piada de mau gosto, pois segundo o próprio candidato Francisco Everardo Oliveira Silva (nome de batismo): “Não é piada, é realidade”, o que seria até interessante como set de humor, mas que ao transformar-se em plataforma acaba ofendendo a cidadania daqueles que ainda querem ter o direito de pleitear alguma dignidade.


Algo que ainda deve ser notado é que a ilustre figura com os seus inúmeros serviços prestados a comunidade pleiteia cargo para deputado federal representando uma vaga paulista com o número 2222 o que mostra que o seu partido mais do que nunca o tem em alta conta, pois para ele foi reservado o número normalmente reservado às estrelas do partido, o que dá para imaginar que o seu partido o tem como modelo de liderança, e digno de representar as propostas da dita agremiação a este que amanhã poderá ser Vossa Excelência Tiririca, pago às custas do bolso do contribuinte brasileiro junto à Câmara de Deputados, onde afinal ele quer fazer parte por sentir que lá estão os seus iguais.


Ele quer, o partido quer, basta o leitor querer, e teremos o ilustre Deputado Tiririca. Alguns comparam o fato ao rinoceronte cacareco eleito para vereador na cidade de São Paulo em 1958, mas quanto a isto há uma diferença; como animais mão podem se candidatar, em que pese sua popularidade, não tinha partido, o quadrupede em questão não assumiu, mas o bípede Tiririca em sendo eleito assumirá.


O fato é um só, o Tiririca não representa, mas se identifica com um segmento da população brasileiro, e o risco de fazer representante pelo voto não é pequeno, para parte do eleitorado é uma espécie de vingança, algo como um presente de grego à classe política, que infelizmente é de se lamentar pois o citado cidadão, não tem ideais republicanos, o que também muitos não o têm, o fato é que ele teve a franqueza, ou a cara de pau de afirmar que está aí para se arrumar, basta lembrar outra parte de sua proposta, em uma ele diz: “estou aqui para ajudar os mais necessitados, inclusive a minha família” e diz que se não eleito em tom jocoso que “ele vai morreeer”, ou ainda quanto ao seu preparo ele mesmo pergunta: “o que faz um deputado federal, na realidade eu não sei, mas vote em mim que eu te conto”, é o mesmo que ler “eu não estou nem aí”. Em outra ele diz, depois de se dizer o candidato lindo “está cansado de quem trambica, vote Tiririca, votando em mim, eu vou estar em Brasilia, e você está na realidade fazendo a coisa da vida do nosso Brasil, a nossa vida, o nosso momento” e termina conclamando “vote no “abestado”, se referindo a si mesmo.


Seja como for o cidadão em questão corre o risco de ter a candidatura caçada, isto porque o Ministério Público Estadual, baseado em notícia publicada na Revista “Veja”, informou que o humorista declarou ao TSE não possuir nenhum bem, pois teria colocado todo o seu patrimônio em nome de terceiros, depois de responder a processos trabalhistas e de sua ex-mulher, o que caracterizaria mentira que é crime eleitoral, ao mentir sobre o patrimônio, enfim eis aí algo para avaliar no ilustre gozador.


Lembremo-nos que ele trará na sua votação quase um milhão de votos, o suficiente para se eleger sendo um analfabeto e levar na “cacunda” o Juca Chaves, o Valdemar do mensalão e até o politiqueiro Agnaldo Timóteo.


Se é certo ou errado, o ideal seria ver um dia a população indignada com um fato destes, enquanto a jocosa piada for mais importante que a cidadania haverá lugar para muitos Tiriricas, seja dos mais disfarçados, seja dos mais descarados.


* PAULO HAMILTON é professor aposentado em Naviraí e colaborador deste site


E-mail: paulohamilton_acen@hotmail.com


Fonte: Paulo Hamilton







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