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Postada por: Redação dia 28/08/2010
Doentes revelam abandono durante greve na Santa Casa
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A greve da enfermagem, que teve início na segunda-feira (23), está tornando o atendimento da Santa Casa ainda mais problemático e confuso. Espera para consultas, truculência, falta de educação e corredores lotados formam o retrato do serviço prestado no maior hospital público de Mato Grosso do Sul.


Na manhã desta quinta-feira, Paulina Leite Martins, de 56 anos, levou a mãe Isma Colombo, de 79 anos, para atendimento na Santa Casa. Sofrendo de úlcera, a idosa reclamava de fortes dores abdominais.


A família deu entrada no hospital às 11h30 e só conseguiu atendimento cinco horas depois, somente com intervenção de um médico de fora. Ontem, por conta das dores que a mãe sentia, Paulina precisou desembolsar R$ 150,00 em uma consulta particular.


“Tive que implorar para um médico particular vir me ajudar senão minha mãe não seria atendida. É um absurdo, a falta de informação e a grosseria com que tratam a gente”, reclama Paulina.


Por volta das 16 horas, enquanto aguardava para tirar um raio-X, um funcionário da Santa Casa disse rispidamente se Isma conseguiria andar até determinada sala. Com a resposta negativa, ele retrucou. “Ao menos em pé ela consegue ficar?”. A filha da idosa confirmou e, ao invés de ajudar, o funcionário disse. “Então traz ela para tirar logo a chapa”. A cena foi acompanhada pela reportagem do Campo Grande News.


"Auto-atendimento" – O caso de Rosevelte Vilalba Rolim, de 28 anos, é ainda mais complicado. No dia 22 de julho, ele dirigia uma motocicleta pelo centro de Bela Vista, cidade localizada a 322 quilômetros de Campo Grande, quando foi atingido por um motorista embriagado.


Com o impacto, a perna esquerda de Rosevelte sofreu um corte da virilha ao tornozelo, com maceração da musculatura e danos completos nas veias. Imediatamente transferido para a Santa Casa, o jovem sofre com a falta de informações e o atendimento quase inexistente.


“Quando meu soro acaba, sou eu quem troca. Eles marcam cirurgia e depois não fazem e sequer me avisam. Só consegui sobreviver porque minha família me ajuda”, relata Rosevelte, que estava com a quarta cirurgia marcada para o início da tarde de hoje. Ele precisou fazer enxertos na perna e reconstruir a artéria femural.


O corte na perna de Rosevelte está aberto desde que deu entrada no hospital, há mais de 30 dias. Os médicos respondem que o procedimento é necessário para que a musculatura se recomponha. “Os responsáveis nunca estão quando chegamos para a visita. Tem períodos do dia que 40 pacientes precisam do trabalho de uma enfermeira, no máximo duas”, relata Daniela Lopes, cunhada de Rosevelte.


“Não posso perder as esperanças, mas a dor é insuportável. Estou a base de antibióticos e morfina há semanas. Perdi minha panturrilha há três dias e minha perna está comprometida. Ainda confio em Deus, porque os médicos e enfermeiros não fazem nada por ninguém aqui”, desabafa o jovem.


A alimentação de Rosevelte é levada por familiares, para que ele consiga sobreviver. A comida do hospital, segundo Daniela, é intragável e não é servida pelos enfermeiros.


“Eles ficam lá sem fazer nada e o meu cunhado urrando de dor. Ele só não teve uma infecção mais grave porque está no quarto com uma pessoa apenas. Tem lugares que tem mais de cinco no quarto”, diz Daniela.


Os corredores da Santa Casa estão lotados, principalmente os setores de raio-X e ortopedia.


Justiça - Em decisão na última quarta-feira (25), o juiz Márcio Thibau de Almeida, do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) determinou que os enfermeiros da Santa Casa cumpram plantão com escala fixa de 100% nos atendimentos do Centro Cirúrgico.


Anteriormente, Thibau havia decidido que os profissionais de enfermagem retomassem em 100% o atendimento no Pronto Socorro e no CTI (Centro de Terapia Intensiva). Nos demais setores, a escala foi fixada em 50%. Se for descumprida, a multa diária é de R$ 5 mil.


A assessoria de imprensa da Santa Casa informou que os índices mínimos de profissionais exigidos em período de greve não estão sendo respeitados. Esta é a segunda greve que os enfermeiros promovem em menos de um mês.


Fonte: CampoGrandeNews







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