Página Inicial | SEGUNDA FEIRA, 06 DE MAIO DE 2024
Postada por: Andrey Vieira dia 09/06/2010
Jovem é internada para procedimento cirúrgico e quase vai a óbito; família acredita em erro médico
Compartilhar Notícia
Rita Stephany, de 19 anos, no dia 26 de janeiro deste ano, entrou no hospital Universitário para implantação de um cateter para desobstruir o canal da urina; hoje, ela não consegue andar e nem falar (Arquivo Familiar)


O sorriso no rosto entra em contraste com um olhar de tristeza. A jovem mãe Inacélia de Oliveira (37), conhecida como Ana, recebe a reportagem do Midiamax com um sorriso no rosto. “Eu ando muito corrida aqui, minha vida é só dedicada a ela e contando com o apoio dos parentes e amigos”. Ana, fala da nova vida que sua filha Rita Stephany (19).
Rita, é mais uma vítima do sistema de saúde precário que assola Mato Grosso do Sul. No dia 26 de janeiro deste ano, ela entrou no hospital Universitário para fazer um procedimento simples de implantação de cateter para desobstruir o canal da urina. “Ela teve uma infecção urinária e fez uma ultrassom que mostrou que ela tinha pedras nos rins, o médico então pediu para internar para passar um cateter e ajudar a quebrar as pedras que seriam retiradas 15 dias depois”, explica.


Segundo a mãe de Rita, os procedimentos cirúrgicos para introdução do cateter ocorreram normalmente, mas após a filha ser levada para a sala de atendimento pós-cirúrgico o quadro começou a mudar. “Estava tudo bem quando ela saiu da cirurgia, e quando eu estava ao lado dela já na cirúrgica II [espécie de sala pós-cirurgia] eu vi que boca e os dedos dela começaram a ficar roxos. Comecei a chamar a enfermagem e não era atendida. Fiquei desesperada, foi quando minha filha piorou”.


Rita então foi para a unidade de terapia intensiva (UTI) e seu quadro passou a ser tratado como uma infecção hospitalar. “Eu perguntava e os médicos me diziam que não sabia o que tinha acontecido. Só falavam assim: ‘mãe, o problema não foi na cirurgia foi depois’. Mas simplesmente me entregou ela assim, sem andar, sem falar e sem conseguir fazer nada”.


Mudanças


Desde o dia da internação de Ritinha, como a moça é carinhosamente chamada pela família, a rotina de todos mudo. A do estudante de engenharia civil, Fernando Cavalcante também. Ele que namora a menina há cinco meses, vai todos os dias na casa dela e ajuda a sogra a cuidar de Rita. “Nós nos conhecemos há uns quatro anos e sempre fomos amigos. Começamos a namorar a cinco meses e está sendo muito difícil, mas eu tenho paixão por ela”, conta o estudante.


“Eu venho todos os dias, quando ela estava no hospital eu só podia ficar uma hora por dia com ele, hoje venho aqui todos os dias”. Fernando tenta explicar o que aconteceu com Rita. “Ela começou a ficar mal e foi para a UTI, então ela teve uma parada cardiorrespiratória, que segundo os médicos causou uma encefalopatia hipóxico-isquêmica. Então ela ficou dois meses na UTI foram falando das possibilidades dela”, explicou.


Sentença de morte


“No dia que a Ritinha teve a parada cardiorrespiratória a assistente social me ligou e disse que era para toda a família ir para o HU, pois o caso era a grave, que era a chance de nos despedirmos dela. Claro que fomos correndo para o hospital, foi dado uma sentença de morte para a minha filha, eu fiquei desesperada”, conto Ana.


Fernando reitera que talvez por isso eles comemorem cada vitória de Rita. “No começo foi bem mais difícil. Nós fomos preparados para o pior, por isso, hoje mesmo com seqüelas comemoramos cada movimento, cada gesto é uma vitória, pois no começo, quando ela saiu do coma induzido ela só abria os olhos”.


“Eu me lembro da primeira vez que ela sorriu de novo para mim. Eu contei algo sobre nós e ela sorriu, foi emocionante, pois não esperávamos nem isso dela. Quando eu ou minha sogra tínhamos que ir embora, ela começou a chorar e também foi uma vitória, e depois de dois meses ela saiu do UTI, mas ficou com várias seqüelas”.


Tratamento


A menina que era saudável, estudava de manhã, fazia estágio no Incra à tarde e cursinho a noite e sonhava fazer engenharia civil, hoje tem uma vida totalmente dependente. “Eu que faço tudo, eu escovo os dentes, dou banho e o Fernando vem me ajudar”, conta.


Ana carrega a filha no colo nas escadas, e uma ação entre amigos foi feita para comprar a cadeira de rodas necessária para locomoção de Rita. “Mais uma vez os amigos que ajudaram, a cadeira custou R$ 1.600 e foi comprada à vista, se não ficava mais caro”.


De acordo com a mãe, o HU não diz nada sobre o caso da menina. “Está tudo do mesmo jeito. No dia 26/05 era para ter feito mais um procedimento para finalmente retirar as pedras, mas eu não vou entregar minha filha nas mãos deles de jeito nenhum. Ela já quase foi a óbito lá”, desabafou a mãe.


Erro médico


Para conseguir acesso ao prontuário Ana precisou procurar a Associação sul-mato-grossense de vítimas de erros médicos. “Fui orientada e hoje, misteriosamente me ligaram do hospital para que eu fosse lá pegar”.


De acordo com Valdemar Moraes de Souza, presidente da Associação de vítimas de erros médicos, após a família acionar a entidade. ”Acionamos o Ministério Público Federal por meio do promotor Felipe Braga e eles entraram em contato com o HU que liberou o prontuário. Vamos ajudar no que for preciso para a Rita e a família tenha assistência”, disse.


Auxílio


A mãe de Ritinha trabalhava como esteticista de forma autônoma e hoje está totalmente voltada para cuidar da filha. “A vida mudou completamente, e às vezes me perguntam em que momento eu choro. Eu já chorei tudo que tinha que chorar no hospital, quando minha filha quase morreu e hoje só tenho que agradecer por ela estar viva”.


A família está sobrevivendo com o salário do marido de Ana e com o auxílio de amigos e familiares. “Eles compram leite, fazem ações entre eles, trazem o que podem. Também me ajudaram a conseguir fisioterapia e fonoaudiologa e agora ela está fazendo fisioterapia em casa também o que gera um gasto maior, por isso, toda ajuda é bem vinda”.

 

Mas Ana, não perde a capacidade de sorrir. "Ela entende tudo, tem consciência do que aconteceu e sabe tudo que falamos, por isso temos muito cuidado com as palavras e com o que vamos falar". Ela é carinhosa e brinca com Rita o tempo todo.


"Antes da internação, a Rita falava para os amigos: 'essa é minha mãe doida'. Então, eu tento isso, passar para minha filha que estou ao lado dela. Outro dia, eu perguntei se ela queria trocar de mãe. Ela balançou a cabeça e riu. E eu não quero ficar longe dela. Ela é minha força e eu preciso ter forças para estar ao lado dela", conclui.


Fonte: MidiamaxNews







Naviraí Diário | Todos os Direitos Reservados