Paulo Hamilton
Se tivesse de passar uma lição importante para os meus alunos, depois desses 36 anos de magistério, ela seria esta: Todo adolescente é besta.
Calma, não se ofenda, por favor. Primeiro, porque aqui não está no sentido literal da palavra. Segundo, porque falo com a autoridade de quem já foi adolescente e, portanto, também muito besta. É possível que a palavra toda contenha algum exagero. Então fiquemos com noventa e nove por cento dos casos.
A afirmação antipática acima não é nova. Um famoso psiquiatra Flávio Gikovate já disse isso de outra maneira num artigo publicado na Revista Cláudia em 1992 e também aparece num livro didático da oitava série. Ele afirma que, na tentativa de esconder sua insegurança, adolescentes e jovens se revestem de uma independência e uma auto-suficiência que não têm. Sentem-se, com isso, onipotentes. “Sabem de tudo”,” fazem tudo melhor”. Os outros, inclusive pais e professores, são “quadrados”, “alienados”, “estão por fora”.
Esse “estado de graça”, entretanto, é que fará os adolescentes caírem do cavalo. E por quê? Porque são esses super-heróis que se envolvem em acidentes graves, dirigem embriagados, andam de motos sem capacete, carros com som altíssimo, incomodando as pessoas, transam adoidado sem nenhum freio moral e muito menos camisinha e se viciam em drogas. Afinal, dizem eles, nada de mal vai acontecer.
Numa perspectiva menos dramática, acontece a seguinte evolução ou involução, dependendo do ponto de vista. A criança que via seus pais como heróis intocáveis, começa a vê-los, na adolescência, como chatos e ultrapassados, incapazes de acompanhar o mundo e suas novidades.
Enfim, um saco, no dizer desses seres especiais bafejados pelos deuses.
A palavra do psiquiatra parece ser dura demais, mas é bem realista.
Se você não se enquadra na situação acima, parabéns. Mesmo assim, apesar de grande parte dos adolescentes não demonstrar essa ingênua presunção pintada acima, faça uma auto-análise sincera e desapaixonada, pois no fundo a maioria é exatamente assim. Mesmo que não digam, pensam e sentem-se assim.
A boa notícia, em compensação, é que os adolescentes têm excelentes qualidades, características da própria fase. São fortes, têm energia e disposição para mover o mundo e executar projetos que nós adultos nem sempre temos gana de realizar. O que precisam fazer é carrear toda essa energia para o bem, para produzir o novo, enfim, transformar sua resmungação em indignação inteligente e produtiva.
Se você é adolescente, acha que as críticas acima são injustas e pertence àquela minoria que é besta, o desafio que eu lhe proponho é este: pare de protestar apenas por protestar, de criticar sem apresentar soluções e de reclamar dos professores e dos mais velhos. Adote a seguinte filosofia: Vou fazer melhor. E faça efetivamente.
Não existe maior alegria e satisfação para o professor do que ver seu aluno crescer a ponto de superar o próprio mestre. É uma gloriosa derrota., se assim podemos dizer. Você tem todo o ano de 2010 para provar que o psiquiatra Flávio Gikovate e eu estamos errados em relação à frase-título acima.
Por fim, talvez ainda questione: E para os adultos, nenhuma crítica?
Afinal fazem tantas besteiras, às vezes até maiores que as nossas?
Há! Já ia me esquecendo, de dizer: console-se, os adultos às vezes são piores. Noventa por cento deles não são apenas bestas. São metidos a besta.
Um abraço fraternal a todos.
(**Paulo Hamilton é professor aposentado em Naviraí e colaborador deste site)
Fonte: Paulo Hamilton