Mato Grosso do Sul negocia a liberação de aplicativo de celular que monitora o contato entre pessoas sadias e confirmadas com o novo coronavírus. Decisões que afrouxam o isolamento social, especialmente a volta das aulas presenciais, devem ser tomadas somente quando a população local já tiver acesso à ferramenta.
Júlio Croda, epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Estado, ressalta que a plataforma deve ser combinada com outras medidas, pois sozinha não será capaz de evitar uma explosão de contaminados. A ideia é manter a curva achatada, como tem sido nas últimas semanas.
Para isso, é preciso associar a ferramenta a uma quantidade massiva de testes. Além disso, a situação deve ser avaliada região por região. Municípios com a média de casos em ascensão precisam de mais tempo de isolamento.
O aplicativo foi batizado de Dycovid. Ele foi criado por uma startup de Pernambuco, a partir de um desafio proposto pelo Ministério Público do estado nordestino por meio do setor de tecnologia MPLabs.
RASTREAMENTO
Roberto Arteiro, gerente de Inovações do órgão, disse ao Correio do Estado que as negociações com Mato Grosso do Sul estão avançadas. Segundo ele, o governo pediu algumas funcionalidades extras, como a liberação de “vouchers” para o drive-thru nos casos em que os usuários constatarem que ficaram muito perto de pessoas infectadas por longos períodos de tempo.
“A ferramenta permite o rastreamento de contatos. Uma vez que as pessoas instalam o APP, são cruzadas as informações de geolocalização dos aparelhos. Tudo é feito de maneira anônima. Nós pressupomos que, se os celulares estão em contato, as pessoas por trás deles também estão”, explica.
O único dado que o usuário fornece ao programa é o número do telefone. Para descobrir quem testou positivo, é necessário que o poder público permita uma conexão com o sistema de consulta aos resultados dos exames, que em Mato Grosso do Sul é coordenado pelo Laboratório Central (Lacen).
Assim, as pessoas conseguirão saber se ficaram perto de um paciente contaminado. A plataforma mostra quanto tempo durou o contato e se a distância era segura. Caso contrário, um alerta se acende: o usuário se tornou um caso suspeito.
“O Dycovid vai gerar uma chave de acesso ao sistema, mas ele não guarda qualquer tipo de informação da pessoa. O dado é vinculado ao celular. Assim, não tem como dizer quem era o caso confirmado que o usuário chegou perto”, diz Arteiro.
Segundo ele, em Pernambuco, as pessoas que receberam o alerta se isolaram por conta própria, inclusive de parentes próximos. No Estado, se tudo der certo, a pessoa poderá fazer a coleta de material biológico, que será testado e confirmará se ela está ou não com a doença.
“A startup está negociando uma contrapartida com o governo de Mato Grosso do Sul. Nós investimos junto da Secretaria de Saúde pernambucana. Precisamos que outros estados invistam um pouco mais para que a ferramenta continue evoluindo em larga escala. Além disso, os estados também terão custos para armazenamento de dados na nuvem. Imaginem milhões de pessoas reportando localizações a cada minuto?”, pondera.
NEGOCIAÇÃO
O titular da Secretaria de Saúde, Geraldo Resende, confirmou ao Correio do Estado que há uma equipe liderando as tratativas para trazer o aplicativo o mais rápido possível para MS. Inclusive, o secretário já o mencionou em uma das transmissões ao vivo pela internet, feitas diariamente para atualização do número de casos.
“A grande questão que precisamos responder é: retornando as atividades, os casos que forem aparecendo poderão ser identificados e isolados precocemente? Por isso, algumas coisas são importantes. Primeiro, identificar e testar o paciente com sintomas, segundo, 70% das pessoas terão que usar máscaras”, completa Croda.
Fonte: Correio do Estado