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Postada por: Jr Lopes dia 14/11/2016
Gasto com alimentos cresce quase seis por cento em 12 meses
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Nos 12 meses a cesta de consumo cresceu 0,7% em valor e o brasileiro começa a encher um pouco mais o carrinho (Foto: Divulgação)


Apesar da ginástica para fazer as compras do mês caberem no bolso em tempos de arrocho no orçamento, o brasileiro começa a encher um pouco mais o carrinho. Nos 12 meses terminados em agosto, a cesta de consumo — de alimentos, bebidas, produtos de limpeza e higiene e beleza industrializados — cresceu 0,7% em valor, em relação ao mesmo período do ano anterior. Quando o recorte é apenas em alimentos, porém, o avanço é de 5,6%, já descontada a inflação, ou seja, esse é um crescimento real, segundo dados da consultoria Kantar Worldpanel.

 

Produtos-ícone dos anos de ganho de renda no país, como os iogurtes, estão entre os que recuperaram espaço na lista de compras. Sobem ainda artigos como embutidos, alternativa a proteínas mais caras, e o açúcar, sinal de que se está cozinhando mais em casa. Mesmo os onipresentes pães e massas, cujo consumo encolheu em 2015, registram crescimento. A queda da inflação em setembro, puxada principalmente pelo recuo nos alimentos, contribuiu para isso. A recuperação do poder de compra, contudo, só deve vir com a retomada do emprego.

 

— Em 2015, tivemos uma situação bem negativa, com quase todas as categorias de alimentos registrando perdas. Este ano, vemos recuperação em grande parte das categorias ou, ao menos, perdas menos intensas. Há tendência de recuperação — explica Maria Ferreira, diretora de Marketing da Kantar. — Não voltamos aos patamares pré-crise, mas estamos deixando de perder e tendo aumentos.

 

O impulso, diz Maria, vem também do fato de os alimentos serem produtos de primeira necessidade, portanto, de reação rápida ao primeiro sinal de melhora na confiança ou queda de preços.

 

Em setembro, os supermercados do Rio registraram queda real em vendas de 0,87% sobre igual mês de 2015. Em agosto, o recuo havia sido de 1,36% em 12 meses, segundo a Asserj, que reúne o setor no estado.

 

— A economia começa a dar sinais de estabilidade, e isso se reflete rapidamente na confiança do consumidor. É uma tendência, mas será uma recuperação lenta e gradual — diz Fábio Queiroz, presidente Asserj. — Esperamos encerrar 2016 com estabilidade em vendas frente a 2015, quando houve redução de 2,21% sobre 2014.

 

Para André Braz, economista do Ibre/FGV, a recuperação virá à medida que a atividade econômica começar a crescer:

 

— O desemprego ainda é muito alto, reflexo de uma atividade econômica fraca. Ainda não há indicador que diga que a renda das famílias melhorou, e isso tira a capacidade de pagar contas. Só com mais emprego haverá a possibilidade de consumir mais. A maioria dos brasileiros continua optando pelo que cabe no orçamento — avalia Braz.

 

A renda média do trabalhador caiu de R$ 2.070, em setembro de 2013, para R$ 2.015 em setembro deste ano, segundo o IBGE. Já a inflação — sempre considerando a medição para o período de 12 meses terminado em setembro — saltou de 5,86%, em 2013, para 9,49% em 2015. Neste ano, perdeu fôlego e fechou em 8,48%.

 

Na crise, diz Queiroz, da Asserj, primeiro, o consumidor corta serviços, indo do restaurante para o supermercado. Depois, substitui itens da marca líder por mais baratos. Por fim, compra menos.

 

— Passamos por tudo isso, sobretudo em 2015. Mas o varejo entendeu que era preciso frear o movimento. Houve parceria com indústrias em busca de preços e formatos de embalagens que coubessem no bolso do consumidor, além de promoções para garantir vendas — diz.

 

ALTA NAS VENDAS DE LINGUIÇA, AÇÚCAR E IOGURTE

A tradutora carioca Elisabeth Lattuca conta que a ida ao mercado é um exercício de escolhas:

 

— Prefiro reduzir a regularidade do que a qualidade. Compro iogurte grego, por exemplo, mas optando por embalagens menores. Hoje peguei o óleo de soja tradicional porque achei os especiais caros.

 

A escolha de Elisabeth reflete os dados levantados pela Kantar, que aponta três produtos em especial puxando o crescimento das vendas: linguiça, açúcar e iogurtes.

 

Os iogurtes saltaram de perda em volume de 8% em 2015 para alta de 6% nos 12 meses terminados em agosto deste ano. Perdem os mais caros, como os funcionais, cuja queda passou de 28% para 14%, na mesma comparação, e os light, com recuo de 15% e 4%, respectivamente. Por outro lado, os do tipo grego encolheram apenas 2% em 2015 e, agora, avançam 29%. Sobe também o iogurte líquido, com 18%.

 

— O consumidor procura o mais barato e também a novidade. Opta por embalagens menores para manter o consumo — diz Maria, da Kantar.

 

A tendência fica clara ao se observar os alimentos com maior peso negativo no crescimento em valor da cesta de alimentos: óleos especiais (-5%), complemento alimentar (-12%) e lanche pronto (-10%).

 

O arrocho chegou até mesmo ao pão e ao macarrão, mas já perde força. Em 2015, o consumo de derivados de farinha de trigo caiu 8% no país, segundo a Abitrigo, que reúne as empresas do setor de moagem. Este ano, o consumo está estável, com perspectiva de voltar a crescer em 2017, diz Marcelo Vosnika, presidente da associação:

 

— Nunca houve queda no consumo de derivados de farinha de trigo. Até esta crise, as pessoas mudavam de produto. Desta vez, deixaram de comprar. Pães, biscoitos e massas são itens consumidos por todas as classes.

 

Na categoria global de biscoitos, segundo dados da Kantar, as vendas caíram 5% em 2015. Já o tipo waffer recuou 15%. Este ano, os biscoitos tiveram alta de 3%, enquanto a queda das vendas do waffer foi reduzida a 1%.

 

— É preciso entender que o consumidor mudou. Busca simplicidade, mas também diversidade. E vai mesclar as compras para alcançar o que o bolso permitir. A farinha de trigo, por exemplo, recuou 4% em volume em 2015. Este ano, cresceu 2%. É efeito das pessoas cozinhando em casa — diz Christine Pereira, diretora de Negócios e Marketing da Kantar.

 

Essa tendência explica a queda nas vendas de bolos industrializados, de 7% em 2015 e de 6% este ano. Já as massas frescas — de melhor qualidade e que podem substituir a ida ao restaurante — avançaram 5% no ano passado e 14% em 2016.

 

— Busco promoções, comparo preços, focada em qualidade. Ampliei o número de idas ao mercado, comprando menos. Quanto mais comida em casa, mais se come — conta a massoterapeuta Elisabeth Novais.

 

RETOMADA DO CONSUMO DOS ITENS DE MARCA

Alex Ribeiro, diretor da rede Prezunic, vê um movimento de melhora nas prateleiras:

 

— Nos alimentos industrializados não houve migração (para mais baratos) este ano, mas opção por embalagem econômica, para não abrir mão da marca. Em 2015, o ajuste foi mais severo.

 

Neste segundo semestre, ressalta, há melhora na venda de biscoitos e de congelados, além de retomada no consumo de produtos de marcas tradicionais e de itens mais caros, como requeijão.

 

— Não abro mão das marcas que costumamos consumir. Arrisco outra de menor preço só com boa referência sobre qualidade — diz o economista aposentado Newton Voigt, que reduziu o consumo de queijo por causa dos preços, mas não abriu mão da carne. — Seria muito sacrifício.

 

Já Fernando Pereira, autônomo, vai atrás de ofertas, para não ter de cortar sua lista:

 

— Vou ao mercado em dias de promoções. E compro produtos com a data de validade perto de expirar, o que garante preço melhor.


Fonte: O Globo







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