Especialista afirma que as carteiras escolares levam as crianças a ter uma postura inadequada, o que pode interferir no aprendizado; mesas deveriam ter inclinação de 30 graus (Foto: Divulgação)
Você sabia que nosso corpo pode estar "enganando" o nosso cérebro? Talvez a maioria das pessoas nunca tenha parado para pensar nisso, mas a ida de um médico português em Londrina-PR, provocou essa reflexão em muitos profissionais.
Nas últimas semanas, Orlando Alves da Silva, oftalmologista, ministrou uma palestra e curso sobre a interferência da postura nos distúrbios de aprendizagem.
Ele é presidente e fundador da Sociedade Portuguesa de Posturologia e Dislexia e viaja por diversos países para divulgar estudos relacionados à postura. Seu ponto de partida é a propriocepção, considerado nosso sexto sentido, que informa ao cérebro sobre o estado do corpo. Enfim, nossa capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo.
Silva explica que quando o sistema proprioceptivo está desregulado, por erros posturais sistemáticos, pode provocar a Síndrome de Deficiência Postural (SDP).
Por exemplo, diante de um erro postural, seja na forma de andar, deitar ou sentar, o cérebro "interpreta" essa condição como normal e se organiza em função dele.
"Isto é, o indivíduo está torto, mas tem a ideia de que está direito e, por isso, não se corrige", comenta. Sendo assim, instala-se um programa cerebral incorreto, que acaba bloqueando circuitos neurológicos e produz ações erradas em diversos mecanismos efetores do nosso organismo.
A SDP pode englobar diversos sintomas como deficiência circulatória, náuseas, fadiga injustificada, limitação de movimentos articulares e, principalmente, as chamadas "3D". "Que são as Dores, envolvendo coluna, cabeça e pernas, Dificuldade de aprendizagem em crianças (dislexia) e Desequilíbrios, como vertigens, tonturas e quedas frequentes", comenta Silva, especialista em oculomotricidade.
Ele diz, por exemplo, que as carteiras utilizadas pelas crianças em sala de aula, fazem com que elas tenham uma postura inadequada, o que consequentemente pode interferir no aprendizado, caracterizando uma SDP. Silva veio a Londrina a convite da Unifil e Instituto Salgado de Saúde Integral.
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Além do fato da posturologia ser pouco conhecida no País, a maioria da população não faz, no dia a dia, uma reflexão sobre os hábitos de postura. E o resultado dessa "fórmula", de acordo com Silva, são agressões diárias que, a médio ou longo prazo, terão graves consequências.
Diante desta realidade, o médico reforça a importância de preparar profissionais quanto ao tema, em especial, oftalmologistas, clínicos gerais e fisioterapeutas.
A oftalmologista Rita Tavares atua no Rio de Janeiro e veio a Londrina, especialmente, para participar do curso. Ela explica que, na rotina do consultório, muitos pais a procuram por indicação dos professores, em decorrência de uma dificuldade de leitura e aprendizagem apresentadas pelos filhos. "Muitos (pais) querem esclarecer a dificuldade considerando apenas uma deficiência visual, quando, na realidade, há muitos casos em que os pacientes não têm grau nenhum na visão", afirma.
Durante a consulta, até mesmo quando os pacientes apresentam grau, Rita observa a relação com outros sintomas que podem revelar a SDP. "Com o diagnóstico correto é possível indicar o melhor tratamento. No caso de dislexia, por exemplo, será recomendado o uso de prismas, em conjunto com a Reeducação da Dinâmica Muscular (RDM)e estímulos cognitivos", aponta.
Fonte: Folha de Londrina