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Postada por: Andrey Guizolfi Vieira dia 19/06/2015
'Não foi fácil chamar polícia', diz idosa ameaçada de morte pelo filho
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Mãe de usuários de drogas, idosa criou nove filhos vendendo chipa (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)


O tempo em que as drogas não faziam parte da rotina da família é lembrado com saudade pela mulher de 73 anos que foi agredida e ameaçada de morte pelo filho caçula em Campo Grande. O homem de 37 anos foi preso depois que a idosa chamou a Polícia Militar.
"Não é fácil para mim, que sou mãe, chamar a polícia para prender o meu próprio filho. É uma tristeza sem tamanho, mas se eu não fizesse isso ele poderia me matar ou até ser morto. Esse é meu maior medo", disse a idosa ao G1 enquanto chorava. Ela preferiu não ter o nome divulgado.


Mãe de sete mulheres e dois homens, ela conta que sempre trabalhou para sustentar os filhos, mas lamenta que o caçula tenha seguido o mesmo rumo do irmão de 45 anos, que também é usuário de droga.


"Criei nove filhos, praticamente sozinha, fazendo e vendendo chipa. A maioria deles sempre me ajudou a trabalhar e trazer dinheiro para dentro de casa, mas de uns anos pra cá minha vida tem sido difícil, desde que o outro filho e o caçula entraram nessa vida de drogas", relembrou.


Há cerca de 10 anos, o filho mais novo se tornou dependente químico, usuário de pasta base, segundo a família. Antes disso, era um homem trabalhador, casado e com uma vida tranquila, conta a mãe. Ela acredita que a mudança brusca foi influenciada por "amizades erradas" e pequenas decepções.


"Ele me ajudava a vender chipa, trabalhava, tinha a família dele, era um menino bom, carinhoso, mas quando começou com a droga tudo mudou. Acho que as amizades erradas o levaram para essa vida. Agora ele troca o dia pela noite, sai de casa em busca da droga e volta no outro dia, transtornado, agressivo, vira outra pessoa. Meu maior sonho é internar meu filho, conseguir levar para tratamento. Acho que ele tem esse direito. Nenhum mãe merece passar por isso", relatou.


O caçula já tinha agredido a mãe outra vez, chegou a ser preso e voltou para casa onde mora com ela há cerca de um mês. A idosa tinha medida protetiva contra o filho, mas na última quarta-feira ele voltou a agredi-la e fez ameaças de morte à família, por isso foi preso.


Uma das filhas da idosa mora na casa ao lado da mãe e acompanha de perto a angústia de ter dependentes químicos na família.
"É muito difícil ver minha mãe sofrendo assim, trabalhando querendo ajudar o filho, mas o filho não ajuda, não quer largar da droga. Quando meu outro irmão entrou nessa vida, o caçula falava que nunca faria isso, e agora está pior que o outro", relatou. O outro irmão não mora com a família e visita poucas vezes, segundo ela.


'Chipa abençoada'
A filha vizinha seguiu a tradição da família e desde 2008 também ajuda na preparação e venda de chipas, o que é motivo de orgulho para a idosa. A mulher acorda de madrugada, prepara a massa, coloca no forno e sai de casa antes do sol nascer para vender o produto no terminal de ônibus Morenão.


"Essa receita minha finada mãe me ensinou, eu ensinei para meus filhos e agora os netos também aprendem. Falo que a nossa chipa é abençoada, porque tudo que consegui até hoje, foi com a chipa. Criei meus filhos, tenho minha casinha e vivo bem, se não fosse meus filhos terem problema com droga", explicou a idosa.


Mesmo apoiando a mãe, a filha conta que gostaria que ela parasse de trabalhar, para descansar. "Ela já trabalhou muito, a vida toda. Agora deveria estar aproveitando a vida, viajando para a casa dos filhos, mas está aí, sofrendo", lamentou a filha vizinha.
A idosa trabalha todos os dias, das 13h às 19h, vendendo chipa no terminal de ônibus Guaicurus. Ela confessa que parte do dinheiro que ganha nas vendas é destinada para sustentar o vício do filho.


"Ele já vendeu tudo que tinha, roupa, calçado, minhas panelas. Quando ele pede dinheiro e eu não tenho ele fica muito agressivo e apronta. Tenho medo dele roubar outras pessoas que não têm nada a ver com o vício dele, por isso, às vezes penso que é melhor eu dar do que ele tirar de outra pessoa", disse a idosa.


Nos próximos dias, a idosa disse que deve procurar a Defensoria Pública para pedir a internação compulsória do filho. "O outro filho não consegui internar e ele foi viver a vida do jeito dele. Não posso desistir dos meus filhos, tenho que ajudar no que eu puder", refletiu.


Fonte: G1/ MS







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