Agentes penitenciários prestaram homenagens ao colega morto friamente na manhã de ontem. (Foto: Marcelo Calazans)
Cerca de duas semanas antes de ser executado no Estabelecimento Penal de Regime Aberto e Casa do Albergado, na Vila Sobrinho, em Campo Grande, o agente penitenciário Carlos Augusto Queiróz de Mendonça, 44 anos, havia pedido transferência para outra unidade coordenada pela Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário). Pai de três filhos e funcionário do Estado há 11 anos, ele realizou o sonho de ter uma filha mulher há um ano.
Fábio Rosa Pires Araújo, 45 anos, disse durante velório na manhã desta quinta-feira (12) que o colega de trabalho demonstrava preocupação com a própria segurança.
Mendonça foi friamente executado na manhã de ontem (11), por volta das 6h, por um homem encapuzado que chegou ao presídio sozinho e atirou cinco vezes. O agente foi atingido por dois tiros no abdômen, tentou correr, mas caiu e levou mais dois nas costas. O quinto disparo acertou o computador da recepção onde ele fazia o controle dos detentos que saíam para o serviço.
De acordo com Fábio, que também é assistente jurídico do Sinsap (Sindicato Estadual dos Servidores da Administração Penitenciária), há aproximadamente duas semanas Mendonça tentou transferência para outra casa de detenção, pois temia que algo de mal pudesse lhe acontecer, tendo em vista a falta de proteção com que os agentes de custódia – aqueles que lidam diretamente com os presos - são obrigados a enfrentar durante o expediente.
Um dos fatores que o motivaram foi o caso do colega Hudson Moura da Silva, 34 anos, em 2011, baleado na entrada do mesmo local, morrendo depois de 19 dias internado. Mendonça presenciou a ação. “Fizemos vários plantões juntos. Ele ficava preocupado com sua segurança. Era uma boa pessoa, de família, e que levava o trabalho com seriedade, respeitando todos, principalmente os encarcerados. Mas tinha medo porque lidava com gente perigosa constantemente”, explicou Fábio, lembrando que não há registro recente de ameaças contra o colega. “Nunca soubemos de nada neste sentido”, completou o assistente jurídico do Sinsap.
A polícia investiga o crime e trabalha com várias hipóteses, entre elas, a de que o agente tenha sido morto por algum ex-detento ou foragido que discordava da maneira correta com a qual ele trabalhava, sempre respeitando as leis e as ordens da casa. Outro agravante pode ter sido o fato de que testemunhou perante a Justiça sobre o crime que vitimou Hudson.
“Independente do que tenha acontecido, o fato é que trabalhamos desguarnecidos, sem coletes, sem armas e em um número relativamente pequeno. Só na Penitenciária de Segurança Máxima são dez agentes para 2.200 detentos”, disse o sindicalista.
Fonte: Campo Grande News