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Postada por: João Guizolfi dia 07/11/2014
Campeã mundial de Stand Up, surfista musa é destaque da terra de Medina
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Nicole Pacelli aprendeu a surfar em Maresias e conquistou o mundo (Foto: Robert Astley Sparke/Red Bull Content Pool)


Reza a lenda que quem aprende a surfar em Maresias, surfa em qualquer lugar do mundo. Mito ou verdade, impossível cravar. Mas fato é que a praia de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, é um celeiro de surfistas que se destacam Brasil afora. Gabriel Medina, por exemplo, pode ser o primeiro brasileiro a conquistar o Circuito Mundial de Surfe (WCT). Porém, não será o único que cresceu no município a conquistar o mundo. Nicole Pacelli, de 23 anos, foi em 2013 a primeira campeã mundial feminina de Stand Up Paddle (SUP), da categoria wave. Natural de São Paulo, aprendeu a surfar nas ondas de Maresias e até hoje treina no local para se manter entre as melhores do esporte.


Apesar de jovem, Pacelli tem currículo com conquistas importantes. É bicampeã brasileira da modalidade e, em 2013, foi a primeira campeã do Stand Up World Tour, o circuito mundial da categoria. No mesmo ano, conquistou o mundial de Stand Up organizado pela ISA (International Surfing Association), tido como os Jogos Olímpicos do surfe. Em 2014, ficou com o vice-campeonato do World Tour, atrás da americana Izzy Gomes.


Com 1,66 metro de altura e 55 quilos, a surfista também se destaca pela beleza. Pelas praias por onde passa, chama a atenção dos marmanjos de plantão. O título de musa não a incomoda, mas prefere focar na busca por títulos dentro do mar. Assim, acredita que conseguirá ajudar a difundir o Stand Up Paddle no Brasil - esporte que tem famosos como adeptos. Caso da atriz global Priscila Fantin, que fez aulas de SUP. Nicole comemora o crescimento do esporte.


– Quando comecei, ninguém sabia o que era. Comecei há uns seis anos e evoluí junto com o esporte no Brasil. Então, vi muitas pessoas que começaram. É um esporte que dá um condicionamento físico muito bom, porque você trabalha todos os músculos do seu corpo. (...) Quero continuar evoluindo, representar o Brasil. Sempre tento ser o mais aberta possível para ajudar as pessoas, incentivar que tenham mais pessoas praticando e vejam como é legal – comentou a atleta.


Nicole é filha do surfista Jorge Pacelli, que ficou conhecido por encarar ondas grandes. Com o surfe na genética, pratica o esporte desde a infância. Na adolescência, aliás, conviveu com um garoto tímido, mas que já despontava na praia de Maresias: Gabriel Medina. Juntos, cresceram nas ondas que são famosas por preparar grandes surfistas do Brasil para o mundo.


– Maresias tem uma onda muito boa. Muita gente fala que se você aprende a surfar em Maresias, consegue surfar qualquer lugar do mundo. Porque quando fica grande, ela fica muito forte. Não tem canal para ir para o fundo. É pesada a onda. Por isso, acho que tem tantos atletas bons aqui. O Gabriel nasceu aqui.


Aprendeu a surfar em Maresias. Tudo o que eu aprendi, foi aqui. Depois de um tempo, quando virei profissional, mudei de vez para cá. Aqui é minha base porque me dá muita condição. A primeira vez que fui para o Havaí, todo mundo falava que era pesado, mas cheguei lá tranquila. Acho que é por causa da força das ondas daqui – destacou.


Nicole Pacelli nasceu em São Paulo, mas, ainda com meses de vida, mudou-se para Guarujá. No município do litoral paulista, teve os primeiros contatos com o mar. Todos estimulados pelo pai, Jorge Pacelli. As ondas do Guarujá, porém, não empolgavam a menina. Enxergava as ondas de lá como "fraquinhas". Por isso, com casa em Maresias, gostava de surfar em São Sebastião.


Em Maresias, começou no surfe tradicional. Entrava no mar frequentemente e surfava com outros garotos que também eram iniciantes no esporte. No início, tudo não passava de brincadeira. Mas, em meio à diversão, alguns já despontavam. Caso de Gabriel Medina.


– Conheço ele (Medina) desde pequena. Desde quando tinha uns 13, 14 anos... Ele sempre foi muito profissional. Desde pequeno, acordava cedo para surfar. Era amador ainda e já tinha uma rotina de atleta. Eu ficava impressionada com ele surfando. Sempre foi um destaque. (...) Quero muito que ele ganhe (o Mundial).


Tem muito surfista que você vê e fala: “caramba, esse moleque quebra. Ele vai para o Mundial. Vai para o WCT”. Mas o Gabriel era uma coisa muito além. É uma coisa meio que virando realidade e que eu nunca tinha visto. Sempre teve esse discurso, essa conversa de: “esse moleque vai representar o Brasil”. E nunca aconteceu. Agora, o Gabriel é uma realidade – disse.


Medina, porém, chega à briga de um título mundial depois de Pacelli. Após ganhar uma prancha de Stand Up que o pai trouxe da Califórnia, a surfista migrou para o SUP. No início, a modalidade era pouco difundida no país. Principalmente entre as mulheres. Por isso, disputou alguns campeonatos contra homens.


Inclusive, algumas etapas de mundiais. Quando os primeiros torneios para mulheres surgiram, conseguiu canecos importantes. Foi bicampeã brasileira em 2010 e 2012. No ano seguinte, alcançou o título mais esperado e, até então, inédito para modalidade.


O ano de 2013 foi especial para Nicole. Foi nele em que ela foi campeã mundial duas vezes. O primeiro título foi do torneio promovido pela Internacional Surfing Association (ISA), que é tido como os Jogos Olímpicos do surfe. Depois, faturou a primeira edição do circuito mundial de Stand Up Paddle feminino, na categoria wave.


O caneco do circuito mundial foi conquistado na quarta e última etapa do campeonato, em 2 de novembro, na França. Nicole terminou a etapa nas quartas de final, quando já não podia mais ser ultrapassada no ranking.


– Fui para França e estava meio que empatada com uma menina da Califórnia. Quem fosse melhor no campeonato, ganhava. Eu estava nervosa. Pensei: “nossa, cheguei até aqui. Tenho que conseguir”. Até que coloquei na minha cabeça: “você já fez tudo isso. Concorreu com os homens, viajou pra caramba, entrou em mares gigantes, vai perder agora?”. Eu ficava colocando isso na minha cabeça. Entrei na bateria com a menina e tirei uma nota de oito e pouco. Ela perdeu logo nas primeiras fases do campeonato. Assim, fui campeã mundial – relembrou.


Com as conquistas, ela se tornou um ícone da modalidade no país. Costuma receber muitos e-mails e várias mensagens por redes sociais de pessoas interessadas em praticar SUP. O crescimento do esporte no país é motivo de comemoração.


– Tem muito brasileiro surfando muito e a galera no mundial fica incomodada. Falam: “o que esses brasileiros estão aqui?”. Tem muita gente talentosa no Brasil. Se tivesse mais investimento para todos os atletas, teria milhares de campeões mundiais em todas as áreas. O surfe ainda tem uma exposição maior, porque é um estilo de vida, tem um incentivo maior das marcas. Mas tem outras que têm mais dificuldades – disse.


Além do desempenho nas ondas, Nicole chama a atenção pela beleza. Costuma tirar fotos para ensaios, principalmente, da marca de biquíni da mãe, a bodyboarder Flávia Boturão. As câmeras não intimidam a jovem. Sabe se sair bem diante das lentes. Afinal, reconhece que o atleta vive da própria imagem.
Mas o trabalho como modelo também não a ilude. Não quer ser reconhecida somente pela beleza. E aponta a surfista Maya Gabeira como um exemplo a ser seguido.


– Ela (Maya) já fez ensaios de modelo, ensaio pelada para uma revista de esporte. Mas, primeiro de tudo, ela foi várias vezes campeã mundial de onde grande. Depois que ela já fez o nome dela, surgiu isso. Então, ela consegue usar a imagem dela. Uma campeã mundial feminina e tem esse lado da imagem. Eu prezo muito isso. Sou campeã mundial e agora posso tirar foto. Tenho esse lado feminino, que é bom. Para as marcas é legal. Pessoal vê que ela é campeã mundial e usa um biquíni bonito. Ajuda também as mulheres entrarem mais no esporte. Às vezes, se fosse um esporte que ficasse muito forte e não passasse essa feminilidade, talvez não tivessem essas atrizes que estão remando e tudo mais. É uma coisa bonita de se ver – comentou Nicole, que namora o surfista Lapo Coutinho.


Ver alguém entrar no mar com uma prancha e um remo não causa mais espanto. O Stand Up Paddle é uma modalidade que cresce no Brasil e já atraiu até celebridade para praticá-la, como a atriz Priscila Fantin. Durante a série "Esportes de Verão", do Eu Atleta, Fantin fez aulas de SUP na Praia da Macumba, no Rio de Janeiro.


O esporte surgiu nos anos 1940, no Havaí. É dividido em algumas modalidades. Apenas duas, porém, são oficiais: SUP Surf (ou Wave), que é praticado por Nicole Pacelli, e SUP Remada. A primeira consiste em descer as ondas em pé na prancha com o auxílio do remo. Por ser mais difícil, tem menos praticantes. Os campeonatos de SUP Wave seguem a mesma linha do campeonato de surfe tradicional, com baterias e tempo para realizar as manobras. Porém, as manobras precisam ser feitas com a ajuda do remo.


O SUP Remada é a categoria que mais cresce no Brasil. A prática é ficar em cima da prancha e remar pelas águas. Por ser mais fácil, pode ser realizado por pessoas de várias idades. Desde crianças até idosos. Além disso, pode ser praticado em rios, lagoas e mares de águas calmas.


Fonte: Globo Esporte







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