Show da cantora Cassiane na noite de ontem (Foto: Marcelo Victor)
Se depender da administração municipal, não tem nem choro nem vela vermelha. A turma evangélica que assumiu a prefeitura de Campo Grande deixou claro na noite de ontem que a "Quinta Gospel" tem dono, mesmo gastando dinheiro público. O prefeito Gilmar Olarte subiu ao palco antes da apresentação da cantora Cassiane para defender a exclusividade do evento. “Ninguém vai tentar misturar! Ela é evangélica. É de Deus”, bradou aos 4 cantos.
O assunto virou polêmica por algumas vezes desde que foi criado na administração passada. Primeiro, por colocar dinheiro público em evento religioso, o que não pega bem para um "estado laico", ou seja, teórica e moralmente sem qualquer relação com nenhum Deus ou credo. Depois, por vetar outros tipos de religião, como as de linha espírita.
A diretora-presidente da Fundação Municipal de Cultura, Juliana Zorzo, responsável pelo veto na semana passada à cantora de Tecnomacumba, Rita Ribeiro, também falou sobre o assunto ontem à noite. “Essa prefeitura tem posicionamento e nós não deixaremos nada mudar isso”, admitiu sobre a legião de fiéis que dominou a administração.
O coro foi engrossado pelo pastor Marcos Grava. Ele ajudou a inflamar a plateia contra a tentativa de outras religiões, dizendo que considera um ataque o simples fato de artistas de outras doutrinas tentarem espaço na Quinta Gospel. Depois, também virou a mira para a imprensa.
“Sites e pessoas mal intencionadas estão tentando destruir o espaço que foi conquistado por alguns legisladores para o público evangélico”, disse ao lembrar da força da bancada evangélica na Câmara, que conseguiu aprovar o uso de orçamento municipal para a Quinta Gospel.
Na argumentação do pastor, “a umbanda tem a linha muito fraca. Vem desde antes de Cristo, logo não é cristã e nem evangélica, ou seja, não é gospel”, afirmou, demonstrando que a proposta de mudança na lei, para ampliar a abrangência da Quinta Gospel, também terá resistência forte.
Incisivo, o pastor instruiu o público a não dar ouvidos à mídia e reforçou, categoricamente, que o evento financiado com dinheiro público por meio da Fundação de Cultura é e sempre será destinado apenas ao público evangélico.
“Esse foi um direito que os nossos legisladores conquistaram para a gente. Se a umbanda ou candomblé querem um dia para eles, que os legisladores deles façam o projeto da Quarta da Macumba. Agora não venham mexer no que nós conquistamos. Glória a Deus irmãos!”, terminou.
O evento na Praça do Rádio Clube não estava cheio. De chegada, antes de todos os discursos inflamados, ainda era possível encontrar pessoas com vontade de ampliar a Quinta Gospel, para envolver outras religiões.
O militar Cleiton Ferreira, de 21 anos, e a namorada Claudenice Cardoso, de 17, não consideram problema em ser um espaço para todos.
Fonte: Campo Grande News