Após denúncia ao procurador regional do MPF (Ministério Público Federal), Daniel Fontenele Sampaio Cunha, foi desencadeada a operação “Água Limpa” no rio Taquari, para investigar o fechamento de baías na região do Caronal.
Nesta semana, uma equipe da Polícia Federal, acompanhada de analistas do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), esteve no local indicado por nossa reportagem. Segundo os policiais, o objetivo da operação foi materializado com as provas evidenciadas através de fotografias e constatações periciais suficientes para serem levadas as autoridades competentes.
A equipe encontrou no local uma draga, que retira areia para contenção das águas, a qual foi identificada e lacrada pelo Ibama, assim como está sendo monitorada pela Polícia Federal para comprovação do proprietário. A equipe deixou claro que novas ações conjuntas serão feitas na região, para que sejam tomadas as providências cabíveis.
Na região citada, várias baías do rio Taquari estão sendo fechadas, provocando desequilíbrio ambiental com a mortandade de toneladas de peixes. O turismólogo Ariel Albrecht explica que as baías são fechadas por determinação de fazendeiros, que visam apenas lucro, ganhando pequenos pedaços de terra para o gado pastar.
No final de janeiro, uma equipe do Edição de Notícias desceu até o Caronal. Foram 10 horas de viagem de lancha pelo rio Taquari, sendo cinco para ir e mais cinco para voltar. Os responsáveis pelo fechamento contam, justamente, com a dificuldade de chegar ao local para cometerem os crimes.
Nossa reportagem flagrou o trabalho numa baia. Sacos de areia sustentados por cercas improvisadas são colocados nas bocas das baías, formando muros. Em seguida, uma draga joga areia para interromper, definitivamente, a entrada de água.
A passagem do Edição de Notícias foi rápida, pois a informação é de que milícias armadas fazem a proteção do local, porém, foi o suficiente para registrar o crime que está sendo cometido. Registros fotográficos comprovam que os trabalhadores braçais ficam num acampamento as margens do rio, onde estocam muitos sacos para fazer os muros. Um flutuante e alguns barcos dão apoio para aqueles que são pagos para cometer os crimes.
De acordo com Albrecht, essa prática acontece desde a década de 70 e a cada ano é renovada, fazendo com que o pescado fique escasso. “Não são os pescadores, muito menos os turistas que acabam com os peixes, mas sim o fechamento das baías, praticado a mando de latifundiários que usam poderio econômico sobre políticos para ficarem impunes”, indigna-se o turismólogo.
Albrecht explica que essas baías enchem na época das chuvas, formando grandes lagoas onde existem milhares de peixes. “Com a seca e, consequentemente, a baixa do rio, a água volta a percorrer seu curso normal, assim como os peixes”, exemplifica. Entretanto, com o fechamento os peixes não desovam, pois é em dezembro e janeiro que a maior parte dos cardumes deixa as baías para desovar. Mesmo que a baía não seque e os peixes não morram, eles acabam perdendo o tempo de desova, rompendo o ciclo reprodutivo.
“Além de causar um grande desequilíbrio ambiental, afetando diretamente a biodiversidade do Pantanal, essa prática também afeta as comunidades ribeirinhas que dependem deste ciclo para sobreviverem”, comentou, emendando que os pescadores usam as baías do Caronal para pescarem, normalmente iscas, e sabem da importância dela como maternidade para a fauna aquática do Pantanal.
Relatos de diversos pescadores dão conta de que são oito fazendas que fecham as baias. O turismólogo acusa esses fazendeiros de gerarem documentos tendenciosos, como laudos, perante órgãos estaduais e federais, que deveriam proteger o meio ambiente, para legitimarem suas ações. Para Albrecht, somente o MPF (Ministério Público Federal) e a Polícia Federal podem impedi-los, porque nas instâncias municipal e estadual os latifundiários sempre ganham.
Fonte: Edição de Notícias