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Postada por: Jr Lopes dia 17/10/2011
Começa hoje julgamento de 3 médicos em caso que chocou o país
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Tem início nesta segunda-feira o julgamento de três médicos acusados de retirar órgãos de pacientes ainda vivos, em Taubaté, a 134 quilômetros da capital paulista. A história chocou o Vale do Paraíba, interior de São Paulo, e todo o Brasil na década de 1980. Pedro Henrique Masjuan Torrecillas e Rui Noronha Sacramento são acusados de quatro homicídios dolosos contra os pacientes Miguel da Silva, Alex de Lima, Irani Gobbo e José Faria Carneiro, entre setembro e dezembro de 1986. O médico Mariano Fiore Júnior é acusado de ser partícipe dos crimes. Um quarto acusado, o neurologista Antônio Aurélio de Carvalho Monteiro, morreu em maio do ano passado. O julgamento deve durar quatro dias.


Os médicos faziam parte do corpo de profissionais da Universidade de Taubaté e realizaram os procedimentos no Hospital Santa Isabel, hoje Hospital Regional do Vale do Paraíba. As informações são do site VNews.


Segundo a acusação, os médicos se utilizaram de diagnósticos falsos de morte para extrair os rins dos pacientes para utilizá-los em uma rede de transplante de órgãos. Na época, os procedimentos foram presenciados por uma enfermeira, que foi testemunha no processo.


Tomando conhecimento do procedimento, o médico Roosevelt Kalume, na época diretor do departamento de Medicina da Universidade de Taubaté (Unitau), denunciou o caso. Segundo ele, as cirurgias foram realizadas sem autorização, sempre durante a noite e pelos mesmos médicos.


Ivan Gobbo viveu um drama familiar em 1986. O irmão dele, Irani Gobo, foi internado no antigo hospital Santa Isabel com um aneurisma. A família autorizou a doação dos rins assim que fosse constatada a morte cerebral. Mas Ivan diz que os médicos desligaram os aparelhos antes disso.


- Tem gente que não fica em coma dois, três, quatro anos e de repente se recupera? Por que não ele? Vamos dizer até que poderia ser um milagre, mas existia a possibilidade - diz.


Na época, outras três famílias contaram histórias parecidas. Então, em 1987, a polícia abriu um inquérito para investigar os atos de quatro médicos. Mais de duas décadas depois, ele quebrou o silêncio. E reafirmou: no momento da retirada dos órgãos, os pacientes estavam vivos:


- Pelos padrões científicos internacionais, você não pode ter um diagnóstico de morte cerebral num paciente que tem fluxo cerebral. E os doentes tinham fluxo cerebral. Tinham arteriografias perfeitas.


O inquérito policial durou dez anos. E o delegado Roberto Martins, que investigou o caso, concorda: houve precipitação na extração dos rins:


- Nós temos uma testemunha, uma enfermeira, que foi incisiva quando ela disse que um dos médicos deu um golpe, uma estocada com bisturi, no coração de uma das vítimas. E também um detalhe importante: morto não volta para a UTI. Era o caso que acontecia. Retirava os rins, diziam que estavam mortos, e voltavam pra UTI. Pra quê?


No tribunal do júri de Taubaté, serão contadas histórias com versões completamente diferentes: a promotoria diz ter provas de que os médicos cometeram, ao menos, quatro assassinatos. Mas a defesa vai tentar mostrar que as denúncias são absurdas e que não passam de mentiras.


Dois acusados, o neurologista Marione Fiore Junior e o urologista Rui Sacramento falaram à VNews. Eles alegaram que a equipe fez todos os procedimentos de forma correta. E disseram que Kalume retirou dos prontuários os laudos que comprovariam a morte dos pacientes.


- O doutor denunciante encaminhou para o conselho prontuários manipulados, manuseados, dos quais ele retirou documentos importantes - afirma o urologista Rui Sacramento.


Mas Mariano Fiore Jr., neurologista, afirma, "não havia sinais de fluxo cerebral compatível com vida nestes pacientes".

O quarto médico, também urologista Pedro Henrique Torrecillas, não quis falar. Ivan Gobo diz que espera por uma decisão da Justiça há 25 anos:


- Quanto tempo de espera e o negócio só vai enrolando, enrolando... É uma emoção muito grande saber que agora pode resolver esse problema desse processo.


- Eu acho que a Justiça tem que dar um basta nessa história. Foi um negócio assim, que me causa náusea até hoje. Me causa espanto - afirma Roosevelt Kalume.


- Eu sofrendo, a família sofrendo, um desespero dos amigos. Só não sei por que isso demorou tanto tempo. Nós estamos atrás dessa absolvição faz tempo - diz Mariano Fiore Jr.


Já o urologista Rui Sacramento se defende:


- Não me formei e não estudei 20 anos para prejudicar a vida dos outros. Pelo contrário: eu me formei pra salvar vidas e pra ajudar as pessoas a viver melhor.


Sobre a possível manipulação dos prontuários das vítimas, o médico denunciante, Roosevelt Kalume, nega as acusações dos réus.


Para o julgamento, serão convocados 25 jurados. Mas apenas sete deles foram sorteados para o conselho de sentença. É esse conselho que decide se absolve ou condena os médicos pela acusação de homicídio. A pena pode variar de seis a 20 anos de prisão.


Fonte: O Globo







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