Três rezadores da aldeia guarani Porto Lindo, em Japorã, percorreram a distância de 477 quilômetros do município até Campo Grande para fazer um ritual de cura em uma menina indígena de 8 anos que tem câncer em uma das pernas. Munidos com chocalhos e outros instrumentos, passaram quase uma hora dentro do quarto da paciente nesta quinta-feira (21) no Hospital Regional da capital.
A cerimônia foi restrita aos representantes da aldeia e médicos. Entretanto, era possível escutar de longe o som das cantigas e do barulho feito pelos instrumentos que levaram. A doença da menina avançou a tal ponto que os médicos terão que amputar o membro afetado.
“É um momento de reza dentro da forma que eles entendem o processo saúde-doença. Com a reza, busca-se fazer o equilíbrio do corpo. A nossa medicina é uma forma complementar para eles, e a deles é complementar para a nossa. A gente busca integrar os dois saberes”, disse o coordenador das equipes de saúde em MS da secretaria de saúde indígena do ministério da Saúde, Zelik Trajber, que acompanhou todo o ritual.
O cancerologista infantil Marcelo Santos Souza, que acompanha o caso da menina, disse ao G1 que respeita todos os tipos de religião e permitiu a reza para que a menina sentisse confortável em passar, também, pelos procedimentos típicos da cultura dela, mas a medicina tradicional deve ser aplicada.
“Tem uma parte do joelho dela que já está toda destruída. Sem amputação ela não tem chande de cura”, afirma o médico.
Souza acompanhou o ritual e, questionado a respeito de uma possível melhora no semblante da paciente, disse ter ficado curioso, tendo em vista que a menina pouco se comunica com a equipe. “É curioso saber o que se passa dentro da cabeça de uma criança em uma hora dessas”, completa.
Ainda não há data prevista para a cirurgia da indígena.
Fonte: G1