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Postada por: Jr Lopes dia 22/08/2009
Mulher viva é dada como morta em hospital
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Na noite do último domingo, a família da aposentada Maria José de Melo, de 84 anos, recebeu a notícia de que, após oito dias de internação na emergência do Hospital municipal Miguel Couto, na Zona Sul do Rio de Janeiro, ela havia morrido. O que a família não sabia é que Maria José foi dada como morta, na sexta-feira, dia 14, por uma médica do hospital. O prontuário já havia sido preenchido com o parecer de óbito quando uma enfermeira percebeu que a paciente respirava sem o auxílio dos aparelhos, que haviam sido retirados. Outra profissional de saúde foi chamada e constatou que Maria José estava viva.


O diagnóstico de óbito foi rabiscado do prontuário, mas o caso foi relatado pela enfermeira em um livro de registros a que O GLOBO teve acesso. Maria José sobreviveu por mais dois dias, mas não resistiu. Segundo o atestado, ela morreu de insuficiência renal crônica, pneumonia, choque séptico e hipertensão arterial.


A aposentada foi enterrada no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na última segunda. Mas, a família só soube do que aconteceu no hospital na quinta-feira por assessores do vereador Carlos Eduardo, presidente da comissão de saúde da Câmara, que recebeu uma denúncia relatando o caso. João de Melo Alexandre, filho de Maria José, esteve no hospital na sexta-feira, dia em que sua mãe foi dada como morta, e percebeu que algo estava errado:


- Fui ao hospital no horário de visita e, quando eu entrei na sala, achei estranho porque havia três profissionais em cima dela. Vi que ela estava respirando muito rápido. Uma das médicas percebeu que eu era parente e pediu para eu me retirar. Achei estranho e pedi para que minha irmã, que estava na recepção aguardando para visitar nossa mãe, subisse para ver o que estava acontecendo. Quando ela entrou na enfermaria, já não tinha mais ninguém atendendo a minha mãe, mas não nos informaram nada - contou.


A filha Terezinha de Melo, que há 19 anos cuidava da mãe, diz que imaginava que ela poderia morrer pelo modo como que estava sendo tratada. Em uma das visitas, Terezinha quase chegou a discutir com uma enfermeira que não teria feito o procedimento adequado:


- A enfermeira tirou o tubo de respiração, fez algumas coisas e saiu, deixando o tubo desligado. Eu vi isso e a chamei. Ela pediu para eu esperar porque tinha que ver outros pacientes. Então, eu mesma religuei o aparelho. Em outra ocasião, o médico que entubou minha mãe chegou a me agradecer por eu tê-lo chamado, já que ninguém do hospital percebeu que ela estava tendo uma espécie de convulsão.


A família também precisou levar cobertores para Maria José, pois o hospital informou que a roupa de cama estava sendo lavada. Segundo Terezinha, a mãe ficou sedada desde que deu entrada no Miguel Couto. Mas, seu quadro vinha apresentando melhoras diárias, conforme lhe relatavam os médicos. - A única reação que ela teve todos esses dias foi abrir os olhos para mim e soltar uma lágrima. Não sei como vai ser agora. Tem 19 anos que ela morava comigo. Eu vivia para cuidar dela - desabafa Terezinha.


Em nota, a secretaria municipal de Saúde e Defesa Civil informou que a direção do Miguel Couto, ao tomar conhecimento do fato, afastou a profissional e abriu sindicância para apurar o ocorrido e tomar as medidas cabíveis. Além disso, já encaminhou documento sobre a situação para a Comissão de Ética Médica. O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) também abriu aindicância para apurar a denúncia.


Segundo o Miguel Couto, Maria José deu entrada na unidade no dia 8 de agosto, em estado grave, com alteração do nível de consciência, insuficiência respiratória aguda e insuficiência renal crônica. Ficou internada desde então e recebeu acompanhamento e medicação necessários. Com relação às denuncias sobre falta de cobertores, a direção informa, ainda, que não há falta deste insumo na unidade, assim como não há orientação para que os pacientes levem sua própria roupa de cama.


Fonte: O Globo







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