Artigo: Dia do Índio, dos Índios. Dias de Quem?
Paulo Hamilton
Leio que mais um indiozinho brasileiro morre de subnutrição! Isso é inconcebível! Somos descendentes de um belo povo livre que encantou os europeus que aqui chegaram, após o “descobrimento”... Fartura e saúde haviam sobejamente.
A “Mãe da Pátria”, a índia Paraguaçu, que se uniu ao náufrago português Diogo Álvares, o Caramuru, misturou, assim como suas irmãs, um sangue limpo de doenças, puro, diferente, aos sangues enfraquecidos por cruzamentos consangüíneos...
Frutas, caça, pesca, agricultura de subsistência simples, mas eficaz... Nenhuma gripe, as viroses trazidas por homens brancos, desde então, até aos hodiernos, que em nome de tudo: fé, governos e até uma pseudo-proteção, aproximam-se das aldeias, destroem a cultura milenar, infectam, contaminam, descaracterizam as orgulhosas raças da belíssima Terra Brasilis!
Índios suicidam-se em massa, como fazem os elefantes. Doam seu espírito aos espíritos da mata, para que protejam a natureza.
Eles querem terras. As terras que herdaram de seus antepassados. Que vergonha deixar um legítimo dono da terra morrer de inanição. Desnutrição é vergonha nacional. Para quem tinha toda sorte de alimentos saudáveis.
A tristeza grassa nos corações de quem respeita a natureza e precisa dela para ser feliz. Como dói assistir pela TV, em reuniões como o Quarup, índios dançando vestidos de calções de nylon,, calçados, com tênis... Deveriam usar as peças após a cerimônia, mas nem se importam mais...
Claro, não há nada demais em progredir! Mas se tiram algo, devem indenizar. Índio é símbolo de riqueza plena, natural. Como podem suas crianças estarem morrendo desnutridas? Os adultos esfarrapados? Claro há tribos que conseguiram ganhar dinheiro, desaculturaram-se, renderam-se ao vil metal. Mas pelo menos, comem. Os demais, sofrem da falta básica da infraestrutura necessária à sobrevivência digna.
Como canta Baby Consuelo, “Todo dia, era Dia de Índio” e agora eles só têm o dia dezenove de abril.
“Tocam fogo, em Brasília, no índio Galdino”. “Sting” vem de um outro país e leva Raoni para falar disso tudo que vem acontecendo na Hiloea Brasileira, conforme o alemão Humboldt apregoava... “Cacique Juruna se elege deputado, anda com um gravador a tiracolo para provar o que lhe dizem/ prometem e depois morre pobre, o que não acontece com nenhum político branco.
Quando eu era jovem, abria a Revista Cruzeiro ( os mais velhos a conheceram) para ler o amor de um branco por Diacuí, a indiazinha, também desaculturada. A carta de Caminha, falando da nudez das mulheres e dos homens aqui encontrados, que não cobriam “ as partes”. Nenhuma roupa para camuflar-lhes a sinceridade, o riso fácil...
“Criancinhas de olhos amendoados, que antes brincavam com animaizinhos de estimação, estão em holocausto, se findando. Reduzindo um contingente de proprietários legítimos... Isso me diz mais que consigo falar...
Acho que a mãe natureza está furiosa. Ou desesperada. E nós o que devemos/podemos fazer?
Hoje é o Dia do Índio. DIA DO MEU IRMÃO ÍNDIO.
Um abraço fraternal a todos.
(Paulo Hamilton é professor aposentado em Naviraí e colaborador deste site).
Fonte: Paulo Hamilton
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