Famílias do Cinturão Verde questionam declaração de vereador

Agricultores do Cinturão Verde destacam que vivem das hortaliças do que produzem (Foto: Folha de Naviraí/ Jr Lopes)

Representantes das famílias que residem nos 34 lotes do Cinturão Verde, projeto implantado no entorno do Presídio de Segurança Máxima de Naviraí desde 2005, demonstraram preocupação e indignação com o debate ocorrido no plenário da Câmara de Vereadores na noite de segunda-feira, 04 de maio. Na ocasião o vereador Márcio André Scarlassara entrou com um requerimento solicitando que sejam feitas análises laboratoriais para comprovar a qualidade da água e das hortaliças que são produzidas pelos agricultores familiares do local.

A solicitação do vereador se deve em razão de uma lagoa de decantação construída para receber o esgoto produzido pela população carcerária da Penitenciária de Naviraí. Ao justificar tal proposição, o vereador chegou a dizer que pode haver contaminação da água e das hortaliças devido a proximidade com a lagoa de decantação e o esgoto existente no local vindo a comprometer a qualidade das hortaliças. Alguns vereadores, entre eles Josias de Carvalho, Deoclécio Zeni e Manoel Messias, falaram sobre a gravidade da afirmação e da preocupação em preservar as famílias que residem no local e sobrevivem da venda da produção de verduras.

Na manhã de terça, 05 de maio, a reportagem da Folha de Naviraí esteve no Cinturão Verde e foi recebida por vários agricultores e pelo presidente da Associação do Cinturão Verde, Aparecido de Jesus Carvalho. Os agricultores disseram estarem indignados com a forma como o tema foi abordado no plenário da Câmara.

– O nosso prejuízo pode ser imenso porque a população fica em dúvida devido as colocações de uma pessoa que demonstra não ter conhecimento do que acontece no Cinturão Verde. A água que corre no entorno da represa, passa em um pasto e vai para o córrego. De forma alguma passa pelos canteiros de verduras como o vereador afirmou – disse o presidente da Associação do Cinturão Verde que promete requerer o uso da tribuna da Câmara na próxima sessão.

Cícero de Souza, o Pelé, planta e colhe verduras que são a fonte de renda da família. Preocupado ele diz que seria importante que as pessoas fossem conhecer de perto o Cinturão Verde. “Temos todo o cuidado necessário e a certeza de que nossa produção é de qualidade. Muitas pessoas vem comprar aqui mesmo, porque sabem como trabalhamos” disse Cícero.

Gleison Carlos dos Santos, outro produtor, reafirmou que a produção é consumida também pelas pessoas que moram no local. “Uma leviandade dessa só nos prejudica. Temos filhos para tratar e uma acusação dessa nos deixa muito preocupados” lamenta Gleison.
Claudinei dos Santos relatou que as famílias precisam de mais apoio. “Nós somos os mais interessados que uma análise da água, do solo e das verduras seja feito. Precisamos de apoio, especialmente para trazer mais esterco para serem aplicados nos canteiros. Só nós sabemos como é nossa luta do dia-a-dia”, relatou.

Thiago Moreira dos Santos, casado e pai de um filho de 3 anos de idade, falou do investimento que as famílias tem que fazer para produzir verduras de qualidade. “A água que irriga os canteiros são de poços artesianos. Nós é que queremos que haja uma solução, porém é leviano afirmar que nossa produção pode estar contaminada”, disse Thiago.

Ângela Maria Enares, cultiva hortaliças há muitos anos e diz que tem toda preocupação em manter a qualidade de tudo que produz. “O que plantamos servimos também para nossos filhos e netos. Quase nem dormi depois que ouvimos a sessão da Câmara. Isso aqui é nosso ganha-pão, é de onde sai o nosso sustento e de nossos filhos”, disse emocionada a produtora.

Por sugestão do presidente da Câmara, Benedito Missias, uma comissão formada pelos vereadores Márcio Scarlassara, Donizete Nogueira e Deoclécio Zeni irá até o Cinturão Verde para verificar in loco o fato.