Com ciclismo, paulista perde 40kg e dribla problema de visão

Postada por: João Guizolfi | Data 18/02/2015 | Imprimir
Silvana, de rosa, com Maíra: dupla tenta defender o Brasil em competições internacionais (Foto: Arquivo Pessoal)


Sobre duas rodas Silvana Chimionato deu duas grandes guinadas em seu destino. Mãe de quatro filhas, a paulista de Franca viu nas pedaladas a chance de mudar de estilo de vida e perdeu quase 40 quilos. E quando uma doença degenerativa a fez perder praticamente toda a visão em apenas dois anos, foi novamente no ciclismo que a então atleta de fim de semana se apoiou para superar o drama pessoal. De lá para cá, a importância do esporte em sua vida só cresceu, e o esforço pode ser recompensado com a oportunidade de representar o Brasil em grandes eventos paralímpicos já neste ano.


Segunda colocada na etapa de Rio das Ostras (RJ) do Campeonato Brasileiro de Paraciclismo de 2014, Silvana precisa figurar no pódio das etapas nacionais neste ano para estar apta a competir em etapas do Circuito Mundial da modalidade. Se mantiver resultados do nível do conquistado no fim da temporada passada (top 3), ela poderá ser convocada para integrar a delegação brasileira nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto e nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro.


Silvana estava com 105 kg quando começou andar de bicicleta com regularidade, incentivada pelo marido Fernando, que já pedalava. Foram mais ou menos seis anos tendo o esporte como um hobby e atividade física. O resultado foi visto no corpo da paulista, que passou a pesar 73kg ainda enquanto amadora. Tudo ia bem, até dores de cabeças fortíssimas tornarem-se rotina. Após quase seis meses peregrinando entre médicos e fazendo exames veio o diagnóstico: coroidose mióptica, uma doença degenerativa que a levaria rapidamente à quase completa cegueira (ainda tem 3% de visão no olho direito).


Foi preciso se reinventar para seguir adiante. Silvana teve que reaprender cada simples tarefa do dia a dia e julgou que a limitação poria fim a alguns hábitos, incluindo o esporte que lhe trazia tanto prazer. Foi então que o esposo descobriu a existência das bicicletas tandem, nas quais duas pessoas pedalam juntas, mas apenas a da frente comanda a direção e as marchas. Foi o início de mais uma guinada positiva.


- Na família de modo geral falaram para eu ficar em casa, acharam que o esforço físico poderia me fazer mal e que estava inventando de pedalar para aparecer. Mas não. Eu tinha que buscar algo para ocupar minha cabeça, senão hoje estaria na cama com depressão. Foi muito difícil no começo, eu tinha medo porque queria ser autossuficiente, mas tinha que confiar. Demorou uns dois meses para me adaptar, mas superei. Há pessoas paradas diante dos problemas, e eu enfrentei isso. O ciclismo está me ajudando muito no psicológico e no emocional. As medalhas foram consequência, mas o fruto que colho mesmo é o exemplo que dou para minhas filhas e para outras pessoas.


As medalhas citadas pela paulista primeiro vieram da parceria com o marido em provas regionais para atletas amadores sem qualquer deficiência. Quando se informou sobre o paraciclismo e começou a sonhar com uma participação nas Paralimpíadas, Silvana teve que buscar uma guia do mesmo sexo. Foi então que começou a parceria com Maíra Nogueira Murakami. A dupla obteve a classificação para disputar a última etapa do Brasileiro da modalidade e, apesar do pouco tempo de trabalho conjunto, conquistou a segunda colocação na prova.


Hoje aos 43 anos, a atleta segue uma rotina rígida para poder conciliar a criação das filhas e competir na elite. Durante a semana levanta às 4h30m para treinar com o marido (que depois segue para o trabalho), e no período da tarde completa a preparação física com atividades na academia. Aos fins de semana, os treinos na bicicleta são na companhia de Maíra e fecham uma média de 350km pedalados a cada sete dias. 


Nessa curta trajetória de alto rendimento, Silvana emagreceu ainda mais, e atualmente pesa 65kg. A boa forma e a motivação a fazem acreditar ser palpável chegar às Paralimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, como representante do Brasil.


- Basicamente as mesmas atletas vinham mantendo o mesmo padrão de pódio nos últimos seis anos, e nós conseguimos dar uma mexida. O Comitê (Paralímpico Brasileiro, CPB) não analisa somente o resultado, mas também quem tem condições de evoluir durante as provas. Eu não sabia como renderia porque enfrentaria concorrentes em geral muito mais novas que eu, mas eu treino muito forte e me dedico muito. Elas podem ter uma longevidade maior no esporte, mas neste momento acredito que eu tenha chances sim. Estamos batalhando para isso.


A primeira chance de Silvana se classificar para defender o país em competições internacionais será de 10 a 12 de abril, na etapa de Brasília do Campeonato Brasileiro. Até os Jogos Parapan-Americanos de Toronto, em agosto, serão realizadas ainda outra etapa nacional, em Santa Catarina, além de três etapas da Copa do Mundo na Itália, na Suíça e na Alemanha.




Fonte: Globo Esporte

Naviraí Diário
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