Ainda no meio do furacão, leitora fala sobre uma ressaca chamada câncer
Postada por: João Guizolfi | Data 09/10/2014 | Imprimir
Fabianne Rezek, 39 anos, mulher, mãe do João, publicitária e fotógrafa.
Sou Fabianne, 39 anos, mulher, mãe do João, publicitária e fotógrafa, bastante comunicativa. No perfil do Twitter me apresento assim: “incontinente emocional, exagerada, tendenciosa à tempestades neurais”. No Facebook: “alguém que lambe o dedo mínimo da mão esquerda, leva a mão à janela e vê a direção do vento. Invariavelmente me decido pela direção oposta às correntes de ar, porque adoro correr atrás de chapéus. Especialmente em meio à chuva.” Intensa. Inteira. Gosto das redes sociais, mas tenho mais amigos reais, inclusive mais do que supunha.
Estou em constante movimento e mudança. Me transformo externamente, na mesma velocidade em que descubro novas ideias e sentimentos; e que me permito vivê-los. Quem me conhece sabe do que estou falando. O temporário, o transitório não me apavora. O definitivo, quando me desagrada, precisa de um “cozimento especial” para digestão. Mas vai, sempre desce, de um jeito ou de outro. Resiliência é a palavra.
Um grande amor/amigo, me definiu, na ocasião de uma separação dolorosa como “uma varanda com vista pro mar,e as variações das marés”. Achei lisonjeiro, pois o mar é minha paixão maior. Sou infinitamente mais feliz perto dele. E minhas experiências, quase divinas, de contemplação de suas variações me fizeram receber isso como o maior elogio do mundo. Tanto que batizei meu primeiro blog com esse nome.
Há meses não alimento o blog, que sempre foi uma forma de exorcizar as emoções. E é engraçado, pois estou vivendo a maior maré de todos os tempos.
Essa “ressaca” chama-se câncer. Fui diagnosticada com carcinoma invasivo na mama direita em 29 de maio deste ano, depois de quatro meses tomando antibióticos para combater uma inflamação, diagnosticada erroneamente... Fui à São Paulo procurar uma “segunda opinião”, porque não havia melhora. Daí a confirmação daquilo que meu coração já sabia. Dessa vez demorei para seguir minha intuição, e ela tardou mas não falhou. Não sei dar maiores detalhes sobre o tumor, pois na consulta pedi ao médico que me dissesse somente o que precisava saber para enfrentar o tratamento com leveza. Saí de lá sabendo poucas coisas.....que era grave e avançado, que ficaria careca com a quimioterapia, não poderia frequentar mais a manicure semanalmente (não tiro cutícula, mas troco o esmalte) e estava expressamente proibida de fazer tatuagens (tenho 13).
Apesar do competente e querido Dr. André Perina ter me pedido para esperar o resultado do exame em São Paulo, recebi o telefonema dele em Campo Grande, na minha casa, ao lado dos meus, onde está minha força maior. Usando as palavras do próprio médico, me tornei uma paciente inesquecível, pois ele foi persuadido a dar seu primeiro diagnóstico fonado, sem detalhes, apenas solicitando minha presença urgente para início imediato da quimioterapia.
Nunca vou esquecer o olhar de pânico da minha mãezinha, sentada no sofá em minha frente, ouvindo minhas meias palavras e “uhuns” da conversa com doutor André. Devo justificar o medo daquele momento com a devastadora experiência de perder meu pai amado para o câncer em 2004, e alguns outros membros queridos da nossa família: tias e tios maternos e paternos. O diagnóstico de câncer para nossa família há muito tempo, se tornou um vilão, um risco, uma desesperança, uma sentença.
Ao contrário do que quem está lendo essa história deva pensar, meu chão não se abriu, não tive depressão, ou chorei dez dias sem parar. Não praguejei, ou questionei Deus e seus desígnios. Apenas não desisti!
Peguei uma sacolinha invisível e saí juntando tudo de bom que pude identificar naquele furacão. Toda coragem que tenho, o maior amor do mundo,que é do meu filho, o apoio dos amigos (que se fosse dar nomes não caberia aqui e em nenhum lugar, tamanha minha riqueza de amizades), meus amores de sangue, família força infinita, os irmãos de alma, meu otimismo nato, o bom humor, a bênção de receber o melhor tratamento possível, e o que eu tenho de maior: a fé.
A fé na vida, principalmente. Fé em mim, e na missão que meu foi dada no nascimento do meu João. Juntei tudo na sacolinha invisível, paguei o excesso de bagagem, e parti para combater o bom combate. E aqui estou, vencendo há quatro meses.
Se tivesse a pretensão de passar algum ensinamento com minha experiência seria: Previna-se. É fácil! Outubro é o mês dedicado a isso. 97% dos tumores diagnosticados na fase inicial tem cura. Cuidados com a saúde é sinal de amor próprio. Amem-se!!!! Eu me amo, escandalosamente.
*Fabianne Rezek agora é colaboradora do Lado B
Fonte: Campo Grande News
Naviraí Diário
www.naviraidiario.com.br
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