Suplicy: Senado não voltará à normalidade com Sarney à frente

Postada por: Andrey Vieira | Data 23/08/2009 | Imprimir


O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) não poupa elogios ao falar da colega acreana Marina Silva, que recentemente abandonou seu partido. Em entrevista exclusiva ao Terra, diz acreditar que a senadora receberá inclusive os votos que iriam para legendas da oposição, não apenas os que iriam para a possível candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, mais cotada para ser a candidata do PT à Presidência da República. "Se por acaso os candidatos do PSDB e do DEM estão pensando que a Marina vai facilitar a vida para eles, estão enganados."

Suplicy admite divergências em relação a Aloizio Mercadante (PT-SP), mas afirma que concordam em que "as coisas não vão bem", principalmente em relação à presença de José Sarney na presidência do Senado Federal. Segundo o senador, "não será fácil" haver votações com Sarney à frente da Casa. Confira a íntegra da entrevista.

Como a oposição vai usar este episódio da crise do partido para se beneficiar nas eleições de 2010?
É natural que a oposição se aproveite destas circunstâncias para fazer críticas, mas é preciso ter consciência de que os problemas que têm acontecido no Senado Federal são de responsabilidade de todos os partidos. Portanto, as dificuldades que aconteceram no âmbito do Senado nos últimos 15, 20 anos, de administração, de desmandos, de abusos, aconteceram com responsáveis na Mesa Diretora que eram, sobretudo, membros de partidos da oposição. É preciso que eles reconheçam isso.

E o que cabe de responsabilidade ao PT?
Da parte do PT, nós precisamos, de pronto, tomar as medidas necessárias para, na prática, transformar o Senado Federal e cada Casa Legislativa de maneira a coibir todos os desmandos e fazer de cada Casa um exemplo de probidade, transparência, publicidade dos seus atos e correção de todos os abusos. É necessário enxugar a administração do Senado Federal.

O senhor disse que tentaria convencer a senadora Marina Silva a não sair do partido. Está frustrado por não ter conseguido?
Tenho pela senadora Marina Silva o maior carinho e respeito, inclusive por sua decisão. Conversei com ela mas, ao ouvir seus argumentos, respeitei muito sua decisão. Acho que ela se constitui em um dos maiores patrimônios da história do PT, uma pessoa reconhecida internacionalmente por sua defesa de um desenvolvimento sustentável, pelo respeito ao meio ambiente, uma pessoa que tanto me ensinou ao longo dos anos de convivência... Perder a Marina é algo muito sério. Seria ótimo se ela tivesse continuado no PT, mas eu transmiti à senadora que sempre trabalharemos e lutaremos por objetivos comuns, como aconteceu ao longo de nossa história. Nos sentimos como companheiros para o resto da vida.

E nas eleiçõs de 2010, como pode pesar para o partido a saída?
A senadora Marina Silva tem tamanhas qualidades que ela vai obter votos em todo o Brasil, de pessoas de todos os partidos. É muito provável que consiga tanto os votos que iriam para o PT como para os candidatos do PSDB, do DEM...

O senhor acha então que ela tira votos da oposição também?
Não tenha dúvida. De todos os partidos, de todos os candidatos. Do José Serra (PSDB, governador de SP), do Aécio Neves (PSDB, governador de MG), da ministra Dilma (PT), do Psol, do PSB. Se por acaso os candidatos do PSDB e do DEM estão pensando que a Marina vai facilitar a vida para eles, estão enganados. Ela será uma candidata muito forte.

A carta foi pública, mas o que o senhor acha que o Lula falou para o senador Aloizio Mercadante para convencê-lo a ficar?
Conforme está na carta, ele mesmo transmitiu que, ao longo da conversa, o senador expressou o sentimento que chegou a ele da sociedade brasileira, de indignação, e o Lula reconheceu isso. Há divergências em relação à postura do Mercadante e a minha, mas ele está percebendo que as coisas não estão bem. Em discurso o senador relatou a história em comum entre ele e o presidente, de tal profundidade que pesou muito este relacionamento de longo prazo e o apelo para que permanecesse como líder.

O senhor não acredita que Lula tenha enquadrado, de alguma forma, o senador?
Eu acho que não, porque a conversa foi de tal ordem que ele disse que vai continuar com a postura de defesa da ética. Eu acho que a partir da próxima semana as coisas serão modificadas.

Como?
Acho que não será fácil o Senado ter votações com o presidente José Sarney como presidente. Prevejo que, tal como aconteceu nas primeiras semanas de agosto, o Senado não voltará à normalidade com o presidente Sarney à frente da Casa. Acho que ainda teremos um período crítico.

O senhor recentemente se colocou à disposição para concorrer ao governo do Estado de São Paulo. O senhor ainda vê esta possibilidade?
O que eu tenho dito ao Partido dos Trabalhadores é que eu quero que o candidato do PT abrace a causa daquilo que eu avalio como importante. Além das boas oportunidades de estudo na rede pública para os jovens e adultos que não tiveram boas oportunidades quando crianças, um bom sistema de saúde pública e outras metas de melhoria de estradas e infraestrutura e preservação do meio ambiente, quero muito que o próximo governo em todas as esferas, federal, estadual e municipal dêem os passos para implementar a renda básica de cidadania. Portanto eu quero que o candidato ou a candidata a governador abrace esta causa. E eu disse que, se não o fizer, eu me sentiria obrigado a entrar em campo.

Entrar em campo como?
Quando você está lá e o técnico manda você entrar em campo é porque você vai jogar, não é? (risos). Compreendeu a linguagem do futebol? Ficou claro?


Fonte: Terra

Naviraí Diário
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