Mortes de crianças em aldeias de MS superam média nacional

Postada por: Andrey Vieira | Data 09/08/2011 | Imprimir
Criança indígena desnutrida em hospital de Dourados, em 2005 (Foto: Arquivo/ TV Morena)


A taxa de mortalidade infantil nas aldeias indígenas de Dourados ainda preocupa autoridades de saúde em Mato Grosso do Sul e no país. Dados da Fundação Nacional da Saúde (Funasa), divulgados pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), apontam que em 2010 houve 32,11 mortes de crianças de até 1 ano de idade para cada mil nascimentos nas aldeias do município. O índice está 13 pontos acima da taxa brasileira, que é de 19,00 para cada mil nascimentos, segundo dados mais recentes do Datasus, divulgados pelo Ministério da Saúde.


Os dados revelam  que nos últimos dez anos os índices de mortalidade infantil nas aldeias já chegaram a números ainda mais alarmantes. Em 2000 foram registradas 141,56 mortes para cada mil nascimentos.


Ainda segundo os dados, somente nos anos de 2006 e 2008 as taxas de mortalidade infantil ficaram abaixo de 29,00 mortes por mil nascimentos.


As terras indígenas do município de Dourados, localizado a 255 quilômetros de  Campo Grande, são compostas pelas aldeias Jaguapiru, Bororó, Panambizinho e Porto Cambira, onde estão concentrados 12 mil indígenas das etnias Guarani Kaiowa, Guarani Nhandeva e Terena.


A coordenadora da Fundação Nacional do Índio (Funai) no município, Maria Aparecida Mendes de Oliveira, informou ao G1 que diversas ações sociais estão sendo feitas pelo órgão para reverter os indicadores de mortalidade nas aldeias do município. Entre as ações estão a entrega de cestas básicas para as famílias indígenas.


Em contrapartida, o antropólogo Levi Marques Pereira, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), afirma que a população indígena de Dourados ainda vive em uma situação de insegurança na questão alimentar. Ele afirma que os alimentos contidos nas cestas básicas são diferentes dos que eles consumiam há cerca de duas ou três gerações e defende que a mudança na dieta alimentar dos índios criou um problema de carência de proteína, vitaminas e outros nutrientes.
 

"Eles comiam muitas frutas como banana e manga, além de alimentos como batata doce, inhame e cará. Hoje somente a mandioca permaneceu na dieta das famílias. Os pratos à base de milho, que eram uma tradição quando havia o cultivo nas terras, praticamente desapareceram. Esses produtos não são oferecidos na cesta básica", explica o especialista.


Ainda segundo o antropólogo, além da questão nutricional, outros problemas de gerenciamento das ações sociais também impactam na saúde da população indígena.  "Os produtos contratados pelas licitações aprovadas pelos governos nem sempre são bons. Também há muitos problemas na distribuição", afirma Pereira.
 

No início deste mês, a Funai distribuiu cerca de 1,5 mil cestas básicas com leite em pó vencido na aldeia indígena Bororó.


Na época a moradora Eliete Rodrigues da Silva contou ao G1 que algumas famílias, sem opção e mesmo com o produto vencido, acabaram consumindo o leite porque não tinham outra coisa para dar para as crianças


Desnutrição
Em 2005, a morte de mais de 20 crianças indígenas por desnutrição nas aldeias Bororó e Jaguapiru foram noticiados na imprensa nacional. O chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena da Sesai no estado, Nelson Olazar, afirma que essa realidade é uma “página virada” nas aldeias de Dourados. “Os dados apontam que em 2010, nenhuma criança indígena morreu vítima de desnutrição no município”, destacou o administrador.


Ainda segundo Olazar, entre as ações que colaboraram para controlar o problema da desnutrição grave está o trabalho de monitoramento alimentar das crianças das aledeias feito por grupos de profissionais da saúde.
 

“Preparamos equipes de médicos, enfermeiros e outros profissionais para que eles pudessem monitorar o perfil nutricional das crianças menores de cinco anos. Os agentes atuam na casa das famílias, fazendo a pesagem das crianças e monitorando o valor nutricional da alimentação”, explica o administrador.
 

Território


Segundo dados Fundação Nacional da Saúde (Funasa), Dourados possui o maior contingente populacional indígena por município do Brasil, com uma população de 12.052 pessoas, que compõe 2.850 mil famílias.


O Diagnóstico das Aldeias de Dourados, elaborado pela prefeitura do município, aponta que a densidade demográfica nas aldeias Jaguapiru e Bororó chega a 333.092 pessoas por quilômetro quadrado. Especialistas apontam que uma das cacarterísticas que diferem as aldeias de Dourados de outras no resto do Brasil é que elas estão no perímetro urbano da cidade.


O antropólogo da  UFGD afirma que a  alta mortalidade infantil nas aldeias índígenas de Dourados  tem relação direta com a urbanização e com o confinamento da população. "São mais de 12 mil pessoas vivendo em uma área de aproximadamente 3,5 mil hectares. Essa condição é extremamente desfavorável para que os índios reproduzam o modo de vida tradicional. Hoje, eles vivem na reserva, mas não conseguem tirar o sustento dela", defende o estudioso.




Fonte: G1

Naviraí Diário
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